Juro pra vocês que minha primeira reação ao assistir a Distrito 9 foi cair na gargalhada. Não que o filme seja ruim, é justamente o contrário: a abordagem do filme é bacana demais. Ou vai dizer que uma favela de ETs não é uma coisa genial? Achei uma jogada de mestre falar sobre alienígenas sem classificá-los de bons ou maus, nem mostrá-los como seres superiores intelectual e tecnologicamente. Só isso já fez a história ganhar muitos pontos no meu conceito.
O longa é feliz em vários momentos, a começar pelo pretenso tom documental, que dá mais veracidade e atualidade a uma história de ficção científica (aliás, tem coisa mais antiga que sci-fi ambientada num futuro distante?). Em seguida, a representação dos aliens segundo o sentido original da palavra: estrangeiros. Não importa se eles não são descendentes do homo sapiens; se eles são diferentes, já é o suficiente para a segregação. E, embora convivam com os humanos há duas décadas (e saibam se comunicar muito bem), eles continuam à margem da sociedade. E são explorados pelo tráfico, vivem no submundo, são vítimas das grandes corporações e, sim, continuam sendo cobaias de gente inescrupulosa e gananciosa. Pensa bem: eles poderiam ser os latinos, os judeus, os negros...
Para completar, a história do humano contaminado que vira alvo dos militares ganha novos contornos e vai além do que já estamos acostumados a ver em filmes do tipo. Wikus van de Merwe (Sharlto Copley, na medida) é o cara que tem sua vidinha ajeitadinha, bem casado, trabalha na firma do sogro, acaba de ganhar uma promoção... E, de repente, vê que nada disso tem valor quando começa a se transformar em uma das criaturas e passa a valer bilhões no mercado. Ô gente sem coração, né? Mentir pra própria filha e fazer o genro ser perseguido em todo o país, que maldade. Mas, no meio de bonzinhos e mauzinhos, Wikus vai provando o pior de cada espécie. A expressão que melhor ilustra sua situação é usada pelo general (mau) que o persegue implacavelmente: "mestiço nojento". Preconceito? Imagina. E o fato de o filme se passar na África do Sul não é aleatório.
E como pode falar de tanta coisa séria e ser blockbuster? Pois é, amigos, o nome disso é talento. Peter Jackson não ia colocar o nome dele (como produtor) nos créditos à toa. Boas cenas de ação, efeitos visuais de primeira e uma boa campanha de marketing também ajudam. Mas, nesse caso específico, a originalidade da trama é o melhor argumento possível. E a Academia ter reconhecido isso com uma indicação a melhor filme, por si só, já é algo extraordinário, embora ganhar, como vocês sabem, já é outra história... Confesso que, se não fosse por esta série no blog, talvez eu nem tivesse visto o filme. Meu ET favorito continua sendo o do Spielberg, mas até que achei os camarões simpatiquinhos...
No próximo post: A princesa e o sapo
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