Oscar 2015: A Teoria de Tudo


Indicações: filme, ator (Eddie Redmayne), atriz (Felicity Jones), roteiro adaptado e trilha sonora


Antes de tudo, confesso: tenho sempre um pé atrás com cinebiografias. Raros são os exemplos que não floreiam demais, não adocicam demais e não contam de menos. O segredo, a meu ver, é o recorte: qual é o ângulo ideal para revelar, enfim, algo novo ou surpreendente sobre o personagem? A Teoria de Tudo nem se esforça para disfarçar que é um filme de superação, daqueles cuidadosamente programados para fazer o público soluçar.

Não que as dificuldades enfrentadas por Stephen Hawking (Eddie Redmayne) não tenham me emocionado, mas saí do filme sem descobrir muita coisa sobre ele além de sua condição física, já mundialmente famosa. O que levou Jane (Felicity Jones) a se apaixonar quase instantaneamente por ele naquela festa? Se não chamava a atenção pela beleza física, certamente tinha outros atributos... Seria o humor a principal característica de sua personalidade? O filme de James Marsh fica na sugestão, mas não aprofunda essa abordagem.

E creio que esse seja um dado importante para irmos além da superfície de um gênio da física aprisionado a uma cadeira de rodas por uma doença degenerativa. Uma fala do personagem, aliás, chama a atenção: ao ouvir do médico seu diagnóstico, sua sentença de morte em dois anos e todos os problemas que passaria a partir de então, ele questiona: "E o cérebro?". Isso diz muito sobre ele. Sua preocupação era continuar trabalhando, não interromper sua pesquisa.

Foi isso que ele fez, mas o longa prefere enveredar pelo drama doméstico em vez de mostrar a importância de seu trabalho teórico, as críticas que enfrentou, os trabalhos que inspirou ou qualquer aspecto relativo ao seu trabalho. Ficamos apenas com a coleção de conquistas de seu sucesso: um convite para um palestra internacional, uma ópera em Paris, uma comenda real. Podemos deduzir, portanto, que ele é um homem que venceu na vida.


No âmbito familiar, o casamento ganha uma porção importante da trama, enquanto  as relações com os amigos, professores, os pais, e os filhos, principalmente, são tratadas de forma quase nula. Não se pode negar, realmente, que a trajetória de Jane seja interessante: uma jovem cristã que se apaixona por um ateu, uma esposa que se propôs a dividir a vida com um marido com cada vez mais dificuldades de locomoção e comunicação, mãe abnegada de três filhos, uma mulher mais madura com dúvidas e desejos por outro homem. Mas, de tanto tocar nessas questões, o filme, muitas vezes, parece ser sobre ela, e Hawking vira coadjuvante. Mais uma vez, falta foco na história, que tenta abarcar todos os principais acontecimentos da vida do cientista e quase vira um grande resumo para iniciantes.

A esquematização do roteiro não invalida, obviamente, as atuações dos atores principais. Felicity é comedida, mas convincente - só que não arrebatadora a ponto de uma indicação. Já Redmayne enfrenta um desafio maior, por ter em mãos um papel desenhadinho para o Oscar, mas difícil de avaliar sem levar em conta o apelo dramático do personagem. No entanto, sua performance não se limita a reproduzir a aparência de Hawking: ele encontra sutileza em vários momentos para mostrar o mesmo homem do início ao fim da projeção. É uma pena que o filme não lhe dê mais elementos para ir além da imitação.

No próximo post: Sniper Americano
Giselle de Almeida

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