Oscar 2014: Frozen - Uma aventura congelante


Indicado nas categorias: animação e canção original


Visual exuberante, uma trama simples e eficiente, protagonistas cativantes e uma trilha sonora encantadora. Embora sempre competente, a Disney não produzia há tempos um filme com tantos predicados, com ares de clássico instantâneo como Frozen - Uma aventura congelante. Mas não deixe se enganar pela palavra "clássico": embora utilize vários dos elementos das tradicionais histórias de princesas, que já se tornaram marca registrada das produções do estúdio, a animação tem um ar irreverente, que moderniza a narrativa.

Inspirado livremente num conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, o longa dirigido por Chris Buck e Jennifer Lee (que também assina o roteiro) é centrado na relação entre as irmãs Anna e Elsa. Logo no início, descobrimos que a mais velha nasceu com o poder de criar gelo, magia que vira brincadeira de criança no castelo de Arendelle, mas que pode ser um perigo, já que ela não consegue controlá-lo. No dia em que, por acidente, Anna se fere, Elsa decide esconder sua condição e se isola de todos. Sem memória do que aconteceu, a caçula se ressente pelo aparentemente súbito afastamento da irmã, e o filme retrata esse sentimento numa sequência belíssima que compara a solidão das duas durante anos, mesmo depois que o rei a rainha morrem.

Puro contraste é a alegria da princesa no dia da coroação de Elsa, quando os portões do castelo se abrem novamente, e Anna literalmente tropeça no amor verdadeiro. Clichê dos clichês em toda história de princesa que se preze, no entanto, o encontro fortuito com o príncipe Hans se torna uma das principais subversões do filme (nas piadas que se repetem ao longo da projeção e no desfecho inspirado). Os dois resolvem se casar de imediato, mas a decisão desagrada Elsa, que se exalta e expõe para todo o reino seu poder, que pode ser bastante amedrontador.


Vulnerável e tachada de monstro, a rainha só vê uma solução: fugir, que é, ao mesmo tempo, sua vergonha e sua libertação. Enquanto Arendelle é tomada pela neve, a canção "Let it go" sublinha o alívio da rainha, na bela cena em que assume sua verdadeira identidade e constrói um lugar onde não precisa mais se esconder (um magnífico castelo de gelo). O curioso aqui é que Elsa é vítima e antagonista, porque representa uma ameaça, mas está longe de ser vilã. O papel, ao menos num primeiro momento, é ocupado pelo ambicioso duque de Weselton.

Enquanto isso, Anna decide consertar a situação e vai atrás da irmã. Sim, uma princesa que não precisa ser defendida por um príncipe, embora seja bastante atrapalhada. Imperfeita e corajosa, está aí uma protagonista interessante. Mas logo ela ganha alguns importantes companheiros de viagem: o jovem comerciante de gelo Kristoff e sua rena, Sven (que funciona muitas vezes como um Grilo Falante, embora não pronuncie uma palavra sequer), e o impagável boneco de neve Olaf, que protagoniza um dos melhores números musicais da animação, inspirado na sua improvável paixão pelo verão. O quarteto funciona num timing perfeito para a comédia, que dá o tom do filme a maior parte do tempo, mas também acerta quando mira em sequências de aventura. Os trolls, pequeninas e adoráveis criaturas, são outros coadjuvantes que valem um destaque, apesar de não ganharem tanto tempo de tela quanto mereciam.

O tradicional final feliz do conto de fadas só vem depois de algumas bem-vindas reviravoltas na trama, que contrariam algumas expectativas, especialmente em relação ao tão falado "amor verdadeiro". Não deixa de ser curioso, já que a fórmula mocinha salva pelo príncipe encantado costumava ser a receita infalível para as princesas de outrora (Branca de Neve e A Bela Adormecida dizem algo?). De forma sutil e natural dentro da trama, Frozen ousa um pouco mais, mas continua com gostinho de (um futuro) clássico. Um feito e tanto.



No próximo post: Alabama Monroe
Giselle de Almeida

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