Indicado nas categorias: filme, atriz (Jessica Chastain), roteiro original, edição e edição de som
Na tela da TV, Barack Obama declara que os Estados Unidos não admitem a tortura. "Isso é um esforço para reconquistar o prestígio moral dos EUA no mundo", diz ele, numa entrevista. A cena, que não dura mais do que alguns segundos, é fundamental para estabelecer a tese de A hora mais escura. Sob o comando do novo líder, o país não iria mais tolerar atitudes como a que aparece logo no começo do filme de Kathryn Bigelow. E o uso da inteligência nacional é que vai determinar a captura do homem mais procurado do mundo: Osama Bin Laden.
Apresentando um longo interrogatório com um membro da al-Qaeda em seus minutos iniciais, a diretora não poupa o espectador de cenas violentas, e essa é uma escolha consciente. Assim como a novata agente Maya (Jessica Chastain), quem presencia cena tão degradante só consegue ter um sentimento: repulsa. Por mais perigoso que seja o sujeito, por maior que seja seu envolvimento com o líder da organização terrorista que causou tantas mortes no 11 de Setembro, ele é um ser humano tratado como um animal. Rebaixado, humilhado e desprovido de qualquer dignidade, não demora até que ele ganhe a empatia do público, e é aí que os papéis se invertem. Quem é o mocinho e quem é o vilão?
A provocação da cineasta é tão clara que parecem surreais as acusações feitas contra ela por parte da crítica e do público. A impressão que se tem é de que novos tabus são criados a cada dia pela sociedade, e a única maneira possível de lidar com esses temas proibidos é através do silêncio. Esnobada pela Academia, Bigelow traz à tona um tema que pode ferir o nacionalismo idealizado americano, mas que não deixa de ser verdadeiro, mesmo que não seja mencionado. É mais fácil acusar a realizadora de defesa da tortura que tentar interpretar o material apresentado como uma crítica.
Existe ainda uma outra subtrama que a tortura evidencia na narrativa: a transformação de Maya com o passar do tempo. Ela, que mal conseguia suportar o interrogatório no princípio, pouco a pouco se contamina por essa lógica e passa a conviver bem com ela, como se fosse um mal necessário. A sensação fica ainda mais forte quando ela sofre uma importante perda, e a caçada, até então um objetivo profissional, vira uma vingança pessoal. Quantos cidadãos de bem também não pensam assim?
Quem acompanha Homeland na televisão consegue enxergar algumas semelhanças de Maya com Carrie, papel de Claire Danes. Determinadas ao extremo, com sexto sentido aguçado, elas enfrentam dificuldades para convencer seus superiores a acreditarem em suas suspeitas e, por vezes, se veem obrigadas a desafiar a autoridade deles para chegarem a algum resultado. Impossível não estabelecer uma comparação entre as duas atrizes e notar que a interpretação de Jessica tem bem menos paixão, embora corresponda às expectativas (guardadas, obviamente, as devidas diferenças de personalidade entre as personagens).
Bem realizada, a produção encontra alguns problemas na edição, no entanto. Depois de acompanhar a movimentação para localizar Bin Laden desde os ataques ao World Trade Center e ao longo da última década, o último terço do longa tenta reconstituir a chegada ao esconderijo do terrorista da maneira mais realista possível. Para isso, utiliza-se de movimentos bruscos de câmera, efeito de visão noturna dos soldados e uma duração que emula o tempo real. Mas o resultado final acaba sendo cansativo demais: são aproximadamente quarenta minutos dedicados apenas à captura em si, e a tentativa de manter a tensão durante toda a sequência nem sempre dá certo. Mas, após o desfecho que o mundo já conhece, a questão que fica é a seguinte: essa história teve, afinal, um final feliz?
Na tela da TV, Barack Obama declara que os Estados Unidos não admitem a tortura. "Isso é um esforço para reconquistar o prestígio moral dos EUA no mundo", diz ele, numa entrevista. A cena, que não dura mais do que alguns segundos, é fundamental para estabelecer a tese de A hora mais escura. Sob o comando do novo líder, o país não iria mais tolerar atitudes como a que aparece logo no começo do filme de Kathryn Bigelow. E o uso da inteligência nacional é que vai determinar a captura do homem mais procurado do mundo: Osama Bin Laden.
Apresentando um longo interrogatório com um membro da al-Qaeda em seus minutos iniciais, a diretora não poupa o espectador de cenas violentas, e essa é uma escolha consciente. Assim como a novata agente Maya (Jessica Chastain), quem presencia cena tão degradante só consegue ter um sentimento: repulsa. Por mais perigoso que seja o sujeito, por maior que seja seu envolvimento com o líder da organização terrorista que causou tantas mortes no 11 de Setembro, ele é um ser humano tratado como um animal. Rebaixado, humilhado e desprovido de qualquer dignidade, não demora até que ele ganhe a empatia do público, e é aí que os papéis se invertem. Quem é o mocinho e quem é o vilão?
A provocação da cineasta é tão clara que parecem surreais as acusações feitas contra ela por parte da crítica e do público. A impressão que se tem é de que novos tabus são criados a cada dia pela sociedade, e a única maneira possível de lidar com esses temas proibidos é através do silêncio. Esnobada pela Academia, Bigelow traz à tona um tema que pode ferir o nacionalismo idealizado americano, mas que não deixa de ser verdadeiro, mesmo que não seja mencionado. É mais fácil acusar a realizadora de defesa da tortura que tentar interpretar o material apresentado como uma crítica.
Existe ainda uma outra subtrama que a tortura evidencia na narrativa: a transformação de Maya com o passar do tempo. Ela, que mal conseguia suportar o interrogatório no princípio, pouco a pouco se contamina por essa lógica e passa a conviver bem com ela, como se fosse um mal necessário. A sensação fica ainda mais forte quando ela sofre uma importante perda, e a caçada, até então um objetivo profissional, vira uma vingança pessoal. Quantos cidadãos de bem também não pensam assim?
Quem acompanha Homeland na televisão consegue enxergar algumas semelhanças de Maya com Carrie, papel de Claire Danes. Determinadas ao extremo, com sexto sentido aguçado, elas enfrentam dificuldades para convencer seus superiores a acreditarem em suas suspeitas e, por vezes, se veem obrigadas a desafiar a autoridade deles para chegarem a algum resultado. Impossível não estabelecer uma comparação entre as duas atrizes e notar que a interpretação de Jessica tem bem menos paixão, embora corresponda às expectativas (guardadas, obviamente, as devidas diferenças de personalidade entre as personagens).
Bem realizada, a produção encontra alguns problemas na edição, no entanto. Depois de acompanhar a movimentação para localizar Bin Laden desde os ataques ao World Trade Center e ao longo da última década, o último terço do longa tenta reconstituir a chegada ao esconderijo do terrorista da maneira mais realista possível. Para isso, utiliza-se de movimentos bruscos de câmera, efeito de visão noturna dos soldados e uma duração que emula o tempo real. Mas o resultado final acaba sendo cansativo demais: são aproximadamente quarenta minutos dedicados apenas à captura em si, e a tentativa de manter a tensão durante toda a sequência nem sempre dá certo. Mas, após o desfecho que o mundo já conhece, a questão que fica é a seguinte: essa história teve, afinal, um final feliz?
No próximo post: Indomável sonhadora
Um comentário:
Gostei muito desse filme. Esperava mais, eu confesso, porém é 100x melhor do que o trabalho anterior da diretora. Parabéns pelo blog!
abraço
marcelokeiser.blogspot.com.br
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