Indicado na categoria: longa-metragem de animação
Se no cinema live action Tim Burton vem perdendo a mão e fazendo filmes cada vez mais caricaturais, na animação ele prova que continua craque. Frankenweenie não tem o frescor de A noiva cadáver, mas, seguindo uma linha mais clássica, conta de forma divertida e comovente uma história singela e faz uma homenagem aos clássicos dos filmes de terror, a começar por sua inspiração maior: Frankenstein. Adaptação de um curta dirigido pelo cineasta em seu início de carreira, rejeitado pela Disney por ser considerado muito sombrio para as crianças, este longa não deixa de ser uma volta às origens do diretor, que sempre mostrou predileção por temas lúgubres e personagens marginalizados. Visto dessa forma, é um bom sinal.
A metalinguagem fica explícita nos primeiros planos do longa-metragem, quando Sparky, o cãozinho de estimação de Victor protagoniza um curta realizado pelo menino e projetado para uma plateia seletíssima: o sr. e a sra. Frankenstein. Introspectivo ao extremos, o garoto é aluno exemplar, mas não possui amigos. Sua única companhia desinteressada era o cachorro, que morre atropelado e o deixa inconsolável. Inspirado pelas aulas de ciência do professor Rzykruski, Victor decide ressuscitá-lo usando a energia dos raios que caem com frequência na região. A experiência improvável dá certo, e ele tem de volta o animal. O problema é que ele não consegue manter o segredo por muito tempo, e logo outras crianças da escola o pressionam para repetir o procedimento, de olho na feira de ciências da escola.
As referências cinematográficas continuam na cadelinha Perséfone (não à toa batizada como a mulher de Hades, deus do mundo dos mortos), que, graças a uma pequena descarga elétrica, ganha mechas brancas em seu pelo; na aparência do professor, inspirada no ator Vincent Price (conhecido como o mestre do macabro), e do aluno Nassor, idêntico à criatura imortalizada por Boris Karloff; nos monstros que ameaçam destruir a cidade de New Holland, estilo Godzilla; e até na injusta acusação (e consequente perseguição) contra Sparky de ser uma ameaça a cidadãos inocentes. Burton também acaba fazendo uma autorreferância, já que uma versão adulta de Victor e outra, digamos, menos viva do cãozinho, também aparecem em A noiva cadáver. Isso sem falar da belíssima e nostálgica fotografia em preto e branco, que, assim, como o stop motion, garantem um visual impecável à produção.
O humor do filme é provocado, basicamente, pela estranheza dos personagens, como a garotinha dona do gato profético e o menino corcunda e mal intencionado, além de situações insólitas, como as frustadas tentativas que o cachorro faz para beber água ou tentar afastar as pulgas. Burton consegue como ninguém equilibrar estes momentos com o drama central da história, que fala de solidão, inadequação e perda, sentimentos recorrentes em seus filmes, que são contados de maneira peculiar, mas conseguem se comunicar universalmente, porque são comuns a todos. Não é de se espantar que algumas lágrimas rolem durante a projeção. Burton, quando acerta, não precisa de muitas firulas.
No próximo post: Os miseráveis
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