Indicado nas categorias: filme, ator (Hugh Jackman), atriz coadjuvante (Anne Hathaway), canção original, mixagem de som, figurino, design de produção e maquiagem
Tom Hooper levou o conceito de musical ao pé da letra. Ciente de que possuía uma boa história nas mãos, o diretor apostou todas as fichas nas canções dramáticas e nas belas atuações de seu elenco em Os miseráveis. Mas acompanhar o filme é um exercício cansativo, já que ele apresenta poucos diálogos e ainda mais raros momentos de silêncio em suas duas horas e meia de duração. A experiência tira um pouco do brilho desse épico, assim como o excesso de sentimentalismo em alguns pontos-chave. Mas é possível garimpar aqui e ali alguns acertos, apesar dos problemas.
Baseada no romance de Victor Hugo, a narrativa se passa na França do século 19. O protagonista, Jean Valjean (Hugh Jackman), é liberado da prisão depois de cumprir pena por quase duas décadas, por roubar um pão. Nas ruas, só consegue abrigo graças à piedade de um padre. Em vez de mostrar gratidão, o ladrão furta a prataria da igreja, mas é pego pela polícia. O padre, no entanto, não só afirma que não houve crime como lhe entrega mais objetos, com uma condição: que ele se torne um cidadão honesto. No fundo do poço, Jean decide se transformar em outro homem e assume nova identidade.
Anos mais tarde, próspero e eleito prefeito, ele atende pelo nome de Madeleine e reencontra, inesperadamente, seu maior desafeto: o implacável inspetor Javert (Russell Crowe). O jogo de gato e rato conduz o filme durante anos a fio, o que garante alguns encontros tensos entre os dois. Jackman se sai bem, mas tudo leva a crer que foi sua performance na primeira fase, magro ao extremo e entregue como nunca, que garantiu sua indicação. A partir daí, se apoia na interpretação sóbria, apesar de umas escorregadas musicais, ao contrário de Crowe, que surpreende como cantor, mas não empolga como o principal antagonista da história. Mesmo assim, o diretor opta por bater na mesma tecla para reforçar o duelo, e acaba caindo na repetição.
Mas é mesmo o encontro do ex-criminoso com Fantine (Anne Hathaway) que vai mudar sua vida para sempre. Demitida de sua fábrica, ela tenta conseguir uns trocados vendendo o cabelo, os dentes e a própria dignidade. Em estado de graça, a atriz toma para si cada segundo dos poucos minutos que lhe cabem em cena. Com a tarefa de interpretar a célebre "I dreamed a dream", em close (e ao vivo, como todos os números musicais do filme), Anne transforma o desafio num dos momentos mais tocantes do longa. Mas a trajetória de sua personagem é conduzida com certa pressa e uns toques de pieguice que não eram necessários, devido à intensidade da própria história.
Pouco depois, Jean cumpre sua promessa e resgata a filha da prostituta, Cosette (a graciosa Isabelle Allen, na infância, e a insossa Amanda Seyfried na fase adulta). Até então, ela vivia sob os cuidados do inescrupuloso casal Thénardier, vivido pela inspirada dupla Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, dona dos únicos e esparsos momentos divertidos do filme. Já adulta, Cosette apaixona-se por Marius (Eddie Redmayne), para desespero de Éponine (Samantha Barks). O triângulo amoroso é um dos pontos mais fracos da produção, em parte pela rapidez e inverossimilhança dos acontecimentos, mas em grande parte pela atuação morna do trio. Samantha se destaca apenas pela bonita voz, mas só isso não justifica um número musical solo para a moça, por exemplo.
A situação só melhora quando a revolução toma conta da trama: Marius é um dos jovens que deseja uma França livre. A canção que incita o povo às ruas, repetida algumas vezes durante a narrativa, não perde sua força, ao contrário: vira um hino que dá força aos combatentes, quando tudo os encoraja a desistir. A presença de Daniel Huttlestone como o pequeno Gavroche é uma grata surpresa, seja combatendo ao lado dos mais velhos na barricada ou fazendo troça do famoso lema nacional ao cantar que "a questão sobre igualdade é que todos são iguais quando morrem. Vive la France!". A mensagem clara de Victor Hugo ainda é mais emocionante que qualquer tentativa de provocar lágrimas na plateia.
Tom Hooper levou o conceito de musical ao pé da letra. Ciente de que possuía uma boa história nas mãos, o diretor apostou todas as fichas nas canções dramáticas e nas belas atuações de seu elenco em Os miseráveis. Mas acompanhar o filme é um exercício cansativo, já que ele apresenta poucos diálogos e ainda mais raros momentos de silêncio em suas duas horas e meia de duração. A experiência tira um pouco do brilho desse épico, assim como o excesso de sentimentalismo em alguns pontos-chave. Mas é possível garimpar aqui e ali alguns acertos, apesar dos problemas.
Baseada no romance de Victor Hugo, a narrativa se passa na França do século 19. O protagonista, Jean Valjean (Hugh Jackman), é liberado da prisão depois de cumprir pena por quase duas décadas, por roubar um pão. Nas ruas, só consegue abrigo graças à piedade de um padre. Em vez de mostrar gratidão, o ladrão furta a prataria da igreja, mas é pego pela polícia. O padre, no entanto, não só afirma que não houve crime como lhe entrega mais objetos, com uma condição: que ele se torne um cidadão honesto. No fundo do poço, Jean decide se transformar em outro homem e assume nova identidade.
Anos mais tarde, próspero e eleito prefeito, ele atende pelo nome de Madeleine e reencontra, inesperadamente, seu maior desafeto: o implacável inspetor Javert (Russell Crowe). O jogo de gato e rato conduz o filme durante anos a fio, o que garante alguns encontros tensos entre os dois. Jackman se sai bem, mas tudo leva a crer que foi sua performance na primeira fase, magro ao extremo e entregue como nunca, que garantiu sua indicação. A partir daí, se apoia na interpretação sóbria, apesar de umas escorregadas musicais, ao contrário de Crowe, que surpreende como cantor, mas não empolga como o principal antagonista da história. Mesmo assim, o diretor opta por bater na mesma tecla para reforçar o duelo, e acaba caindo na repetição.
Mas é mesmo o encontro do ex-criminoso com Fantine (Anne Hathaway) que vai mudar sua vida para sempre. Demitida de sua fábrica, ela tenta conseguir uns trocados vendendo o cabelo, os dentes e a própria dignidade. Em estado de graça, a atriz toma para si cada segundo dos poucos minutos que lhe cabem em cena. Com a tarefa de interpretar a célebre "I dreamed a dream", em close (e ao vivo, como todos os números musicais do filme), Anne transforma o desafio num dos momentos mais tocantes do longa. Mas a trajetória de sua personagem é conduzida com certa pressa e uns toques de pieguice que não eram necessários, devido à intensidade da própria história.
Pouco depois, Jean cumpre sua promessa e resgata a filha da prostituta, Cosette (a graciosa Isabelle Allen, na infância, e a insossa Amanda Seyfried na fase adulta). Até então, ela vivia sob os cuidados do inescrupuloso casal Thénardier, vivido pela inspirada dupla Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, dona dos únicos e esparsos momentos divertidos do filme. Já adulta, Cosette apaixona-se por Marius (Eddie Redmayne), para desespero de Éponine (Samantha Barks). O triângulo amoroso é um dos pontos mais fracos da produção, em parte pela rapidez e inverossimilhança dos acontecimentos, mas em grande parte pela atuação morna do trio. Samantha se destaca apenas pela bonita voz, mas só isso não justifica um número musical solo para a moça, por exemplo.
A situação só melhora quando a revolução toma conta da trama: Marius é um dos jovens que deseja uma França livre. A canção que incita o povo às ruas, repetida algumas vezes durante a narrativa, não perde sua força, ao contrário: vira um hino que dá força aos combatentes, quando tudo os encoraja a desistir. A presença de Daniel Huttlestone como o pequeno Gavroche é uma grata surpresa, seja combatendo ao lado dos mais velhos na barricada ou fazendo troça do famoso lema nacional ao cantar que "a questão sobre igualdade é que todos são iguais quando morrem. Vive la France!". A mensagem clara de Victor Hugo ainda é mais emocionante que qualquer tentativa de provocar lágrimas na plateia.
No próximo post: O amante da rainha
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