A sinopse é de um drama familiar, mas A separação é muito mais do que o retrato de um lar desfeito. Com muita sensibilidade, o longa de Asghar Farhadi (responsável pelo roteiro e pela direção) ressalta alguns valores fundamentais da cultura iraniana numa história pautada por eventos comuns, sem mocinhos ou vilões. Mais importantes do que os acontecimentos propriamente ditos são as reações de cada personagem e suas consequências nas vidas das pessoas mais próximas.
Simin (Leila Hatami) resolve pedir o divórcio porque Nader (Peyman Maadi) se recusa a sair do país com ela e a filha do casal, Termeh (Sarina Farhadi). Ele não aceita a ideia de abandonar o pai, que sofre de Alzheimer. Solteiro, ele se vê obrigado a contratar uma ajudante para cuidar do velhinho, que já está num estágio avançado da doença. Grávida, Razieh (Sareh Bayat) aceita o trabalho, mas logo se arrepende da decisão. Atormentada entre a religião, que não permite que ela troque as roupas sujas do pai do patrão, por exemplo, e a necessidade de receber um salário para livrar o marido, Hodjat (Shahab Hosseini), desempregado, dos credores, ela fica com a segunda opção.
Mas uma série de acontecimentos altera brutalmente a rotina das duas famílias, que vão se enfrentar na Justiça trocando acusações graves. Nenhum deles quer ser chamado injustamente de ladrão ou de assassino, mas cada um apresenta suas razões e ninguém chega a um acordo, porque todos, no fundo, são um pouco culpados e um pouco inocentes. E o grande acerto do filme é mostrar o conflito sem condenar ou absolver um ou outro. Afinal, um pai amoroso e filho dedicado que perde a cabeça pode ser considerado um monstro? E uma mulher religiosa que omite a verdade para garantir a segurança da família? A lei, rígida e inflexível por natureza, consegue abordar todos os aspectos necessários para a compreensão do que realmente aconteceu? Essas e outras dúvidas vão ficando pelo caminho.
Aliás, a abordagem religiosa consegue atribuir ainda mais significados às decisões de cada personagem. Porque se eles são capazes de encarar uma pequena mentira diante do juiz, não podem fazer o mesmo com a mão sobre o Torá: desrespeitar as leis de Alá é mais grave que qualquer infração das leis dos homens. É pecado, e nem mesmo a ação mais cheia de boas intenções poderá escapar das consequências. Além disso, todo o tempo, fica evidente que o grande problema entre os envolvidos é mais uma questão moral do que qualquer outra coisa. Provar a própria inocência é mais importante que escapar da prisão ou de uma multa elevada e até mesmo do que salvar um casamento. É questão de honra valor muitas vezes esquecido na cultura ocidental.
Em meio a um elenco cheio de acertos, que inclui um desempenho impressionante das pequenas Sarina Farhadi e Kimia
Hosseini, que interpreta Somayeh, merece destaque o ótimo trabalho de Maadi e Bayat, que constroem com excelência esses personagens tão sofridos e cheios de
questionamentos. Alternando sentimentos como culpa, orgulho,
arrependimento e medo, são deles os melhores momentos do filme. É
comovente ver Nader tentando dar conta de todos os problemas, tendo que
lidar com as cobranças da filha, a ausência da mulher, a piora do pai. E
as lágrimas de Razieh ao implorar pelo marido ou temer pelo castigo
divino são igualmente emocionantes.
Aliás, a abordagem religiosa consegue atribuir ainda mais significados às decisões de cada personagem. Porque se eles são capazes de encarar uma pequena mentira diante do juiz, não podem fazer o mesmo com a mão sobre o Torá: desrespeitar as leis de Alá é mais grave que qualquer infração das leis dos homens. É pecado, e nem mesmo a ação mais cheia de boas intenções poderá escapar das consequências. Além disso, todo o tempo, fica evidente que o grande problema entre os envolvidos é mais uma questão moral do que qualquer outra coisa. Provar a própria inocência é mais importante que escapar da prisão ou de uma multa elevada e até mesmo do que salvar um casamento. É questão de honra valor muitas vezes esquecido na cultura ocidental.
No próximo post: O artista
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