Oscar 2011: O discurso do rei


Indicado nas categorias: filme, diretor (Tom Hooper), ator (Colin Firth), ator coadjuvante (Geoffrey Rush), atriz coadjuvante (Helena Bonham Carter), roteiro original, direção de arte, fotografia, edição, trilha sonora original e mixagem de som


Como diria o tio Ben, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Portanto, não foi à toa que o pai da rainha Elizabeth II relutou enquanto pôde para assumir o trono: não só pela dificuldade de falar em público, tarefa que seu cargo lhe exigiria com frequência, mas por uma insegurança profunda, alimentada desde sua infância. Eu sei, um longa sobre um governante gago na corrida pelo Oscar pode soar estranho, mas O discurso do rei é a prova de que, muitas vezes, um filme não cabe nas poucas linhas de uma sinopse. O tratamento para o problema na fala é só uma desculpa para mostrar todos os fantasmas reais (com trocadilho, por favor) que assombravam Albert Frederick Arthur George e tornaram mais difícil o caminho até ele se tornar oficialmente o monarca George VI.

Como os principais especialistas do Reino Unido foram incapazes de detectar o problema, coube ao fonoaudiólogo Lionel Logue, sem phD ou recomendações do alto escalão, ajudar o rei a discursar melhor e, sem a menor cerimônia, dizer umas verdades que o protocolo real não aprovaria. Se você apostou que aí começa uma amizade ganhou um doce. Mas não se preocupe, que o filme não tem lugar para pieguice. O longa é conduzido com sensibilidade, mas também tem aquele inconfundível humor britânico.


E se o resultado é bom, os ótimos Colin Firth e Geoffrey Rush devem receber grande parte do crédito. Com diálogos inspirados, os dois fazem uma dobradinha impecável durante todo o filme. A sequência final, como era de se esperar, é emocionante. Já a sempre competente Helena Bonham Carter, embora correta, não tem tanto espaço para brilhar. Fiquei até surpresa com sua indicação em um papel tão discreto. Vai ver que é porque provou que não é só atriz de papéis excêntricos.

Além das boas atuações, o longa de Tom Hooper também tem a favor a sacada esperta do roteiro, que evitou o lugar-comum das biografias da realeza, que surgem aos montes todos os anos. Desta vez, nada de bastidores do poder ou personalidades excêntricas, só a luta de um homem para vencer os próprios medos. E se esse homem tiver sangue azul, então, aí é que o povo gosta. A julgar pelo número de indicações, a produção está no páreo, e certamente tem mais cara de Oscar que o "jovem" A rede social. Mas filme do ano? Sei não. Depois de tanto barulho, esperava um pouquinho mais.


No próximo post: O mágico
 
Giselle de Almeida

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