Oscar 2011: Biutiful


Indicado nas categorias: ator (Javier Bardem) e filme em língua estrangeira


Confesso, eu já estava preparada para algumas lágrimas durante a exibição de Biutiful. Não dá para ser indiferente a um filme que trata de um pai divorciado que se vira como pode para criar os dois filhos pequenos e ainda descobre que sofre de um câncer terminal. Eu sei que tem gente que torce o nariz para este tipo de filme e foge logo que lê a sinopse, mas garanto a vocês que ver Javier Bardem em cena é imperdível. É sério. Levem o lencinho para o cinema se for preciso, mas depois não digam que não avisei.

No longa de Alejandro González Iñárritu, de bonito mesmo só o título. As ruas de Barcelona que se veem no filme não são as dos cartões postais. Ao contrário, poderiam se confundir facilmente com um subúrbio qualquer da América Latina. E é lá que Uxbal tenta manter o aluguel pago e a comida na mesa dos filhos. Mas ninguém aqui está falando de um herói: ele trabalha na clandestinidade, arrumando emprego para imigrantes ilegais e subornando policiais. Entre uma coisa e outra, a recém-descoberta doença é apenas uma das pancadas que o destino lhe reserva (e olha que não são poucas). A vida é dura, e a morte é certa. Nada mais cruel. 
 

Cercado por duas crianças fofas (dá vontade de levar o garoto pra casa!), Bardem brilha em cada oportunidade. Não poderia haver escolha mais acertada que ele para viver esse homem que não conheceu o pai e carrega o medo de ser esquecido pelos filhos, a angústia de não poder vê-los crescer e a preocupação com o futuro deles. Seja dando uma bronca nos pequenos ou explodindo com a ex-mulher, o ator comove. Mas alguém devia ter avisado a Iñarritú que isso bastava, não precisava aquela trilha incidental exagerada e irritante. Além disso, o diretor tenta fazer uma poesia aqui e ali e, às vezes, quase derrapa com cenas de realismo fantástico que não combinam muito com o clima do filme e beiram a cafonice. Mas diante de um filme com tantos dramas bem colocados, isso a gente até perdoa.

Biutiful é uma luz no fim do túnel na filmografia de Iñárritu. Depois de se repetir à exaustão em seus últimos longas, ele continua querendo ser o cineasta dos excluídos, dos marginalizados, das minorias. Mas descobriu, enfim, que pode falar de seus temas favoritos sem ter que recorrer sempre à mesma estrutura narrativa, porque isso cansa. Um dos grandes méritos do longa é dispensar o uso das tramas paralelas, marca das obras do diretor durante a parceria com o roteirista Guillermo Arriaga. Sim, é possível enxergar histórias ricas em diferentes núcleos, mas a costura entre elas é mais sutil, e o foco é mesmo o drama de Uxbal. E só isso, somado à magnífica interpretação de Bardem, já garante um grande filme.


No próximo post: O discurso do rei

Giselle de Almeida

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