Oscar 2011: O mágico


Indicado na categoria: longa-metragem de animação


Numa época em que o cinema respira 3D, não deixa de ser simbólica a presença de O mágico (Django Films) entre os indicados para o Oscar. Nadando contra a corrente, o filme francês é o representante deste ano da animação em estilo tradicional. Não poderia ser maior o contraste com seus concorrentes, Como treinar o seu dragão (Dreamworks) e o favoritíssimo Toy Story 3 (Disney/Pixar), que contam com boas doses de marketing e são capazes de lotar salas de adultos e crianças. Difícil imaginar o mesmo em relação ao drama do velho ilusionista que descobre que sua arte está saindo de moda. Como se vê, tanto na forma quanto no discurso, o longa é nostalgia pura. 

Quase sem diálogos e exibida sem legendas, a melancólica animação de Sylvain Chomet (de As bicicletas de Belleville) conta a história de um velho mágico desiludido com a profissão e obrigado a encarar plateias cada vez mais vazias enquanto os teatros ficam lotados de jovens histéricas, ansiosas para ver a performance de bandas de rock. É, o mundo mudou, e talvez não haja mais espaço para gente como ele e seu adorável e gorducho coelho. Mas é uma escocesinha que modifica o rumo das coisas. Encantada por seu ofício, a pequena Alice acredita de verdade nos truques do ilusionista e decide seguir com ele em suas viagens. Ah, a inocência das crianças...


Feito a partir de um roteiro de Jacques Tati, o filme acaba por se tornar uma grande homenagem ao  comediante francês quase 30 anos depois de sua morte. O protagonista não só tem a aparência e os trejeitos de seu personagem mais famoso, M. Hulot, como carrega o sobrenome de batismo seu criador, Tatischeff. Mas uma reverência ainda mais explícita acontece numa cena em que nosso mágico entra num cinema que exibe a comédia Meu tio, com o ator em carne e osso.

Bonito de se ver, O mágico é cinema de animação quase em extinção. E é bom saber que esse campo não é feito só de objetos voando em direção à plateia o tempo todo. Às vezes, um bom roteiro e alguma delicadeza já são suficientes. Sabe como é, a dor da gente não sai em 3D.



No próximo post: Cisne negro
Giselle de Almeida

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