Oscar 2011: 127 horas


Indicado nas categorias: filme, ator (James Franco), roteiro adaptado, edição, trilha sonora original e canção original


Esqueça todo o resto: 127 horas é James Franco. O ator, que tem em mãos o papel de sua vida, sabe muito bem disso, e não nos decepciona um momento sequer. Sozinho em cena em grande parte do filme, ele assume a responsabilidade sem medo e nos oferece uma interpretação comovente. É tão bom vê-lo uma atuação como essa... Pelo visto, o canastrão melhor amigo de Peter Parker em Homem-Aranha ficou mesmo para trás.

Baseado na história real do americano Aron Ralston, o longa acompanha o jovem durante uma expedição solitária ao Blue John Canyon, em Utah. Depois de um acidente que deixa seu braço direito preso a uma rocha, ele fica imobilizado. Esperar por socorro era uma possibilidade remota, já que ninguém sabia onde ele estava. Suas únicas companhias nas horas seguintes foram o medo, a raiva, o desespero, a fome, o frio, a sede. Até que ele é obrigado a tomar uma decisão extrema para sobreviver.


O filme é tão realista que já fez vários espectadores passarem mal. Concordo que algumas cenas são punk, e confesso que cheguei a me perguntar se o que levou Danny Boyle a filmar essa história (e o que leva as pessoas ao cinema) não seria um misto de voyeurismo e masoquismo. Mas não se trata disso. A tão falada parte em que Aron resolve amputar o braço é chocante, sim, e dura mais alguns minutos do que os estômagos mais fracos (como o meu) poderiam suportar. Impossível não se contorcer na cadeira. Só que a questão aqui não é ser sensacionalista ou escandalizar - não estamos falando de nenhum Jogos mortais. É apenas um momento importante na trama, que está devidamente contextualizado. Nada mais.

O grande barato, portanto, é acompanhar o estado psicológico do protagonista durante toda a jornada. Em um momento, ele faz piada sobre a própria situação. Em outro, depois de um ato de desespero, repete para si mesmo, como um mantra: "Não perca a lucidez". Franco e Boyle fazem essas transições (perfeitamente verossímeis, dadas as circunstâncias) com maestria, auxiliados por uma excelente trilha sonora, sabiamente utilizada. Mas nem tudo, obviamente, é perfeito: quando o diretor investe em sequências-clichê para mostrar que Aron buscava a paz e o silêncio para fugir do caos da cidade grande, resolve dar lição de moral do tipo eu-preciso-dar-mais-atenção-para-a-minha-família ou inventa de fazer poesia com a suposta premonição do rapaz sobre seu futuro (um dos motivos que o levariam a tentar sair dali), o longa fica a centímetros do piegas. Não precisava.



No próximo post: Atração perigosa
 
Giselle de Almeida

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