Oscar 2010: Preciosa


Indicado nas categorias: filme, direção, atriz, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e edição



Confesso que fiquei meio com o pé atrás quando li a sinopse de Preciosa. Em geral, não gosto de filmes barra-pesada como esse, na maioria das vezes, baseados em histórias reais e muito, muito tristes. Aí vem porrada atrás de porrada e você fica, na poltrona do cinema, se perguntando como alguém consegue levar uma vida dessas e como seus problemas são infinitamente menores. Só que é muito fácil filmes assim caírem no clichê. Até esse sentimento de embrulhar o estômago que experimentamos quando se apagam as luzes já vem pronto. Porque nós somos seres humanos, e por mais que tentemos disfarçar, ter empatia pelo sentimento alheio é mais forte do que a nossa racionalização.

Por tudo isso, a maior surpresa do filme para mim é que Lee Daniels conseguiu me fazer lembrar durante toda a exibição de que havia ali uma adolescente de 16 anos, alguém que ainda não atingiu a maioridade, muito menos a maturidade. Quando a gente fala de uma jovem que é estuprada pelo pai, engravida dele duas vezes, é maltratada pela mãe e rejeitada pela sociedade por ser negra, gorda, pobre e semianalfabeta (é, é muita tragédia junta, e ainda tem mais), podemos nos enganar e pensar em alguém que teve que aprender a ser adulto na marra. Mas Clareece Precious Jones, no fundo, é só uma criança. E sonha em ser artista, fantasia uma mãe amorosa, deseja ser branca e linda, imagina um príncipe encantado. Seu mundo de faz de conta é a sua tábua de salvação justamente nos momentos em que a vida é mais cruel com ela. E isso tudo é mostrado de uma forma tão bonita... Acho que, na verdade, serve de alívio para nós também, quando a brutalidade atinge níveis mais altos do que podemos aguentar.

Na pele de Precious e Mary, Gabourey Sidibe e Mo'Nique (séria candidata a melhor atriz coadjuvante) estão soberbas em cena. De um lado, a filha dependente e submissa, que se sujeita às piores barbaridades possíveis até descobrir que pode tomar as rédeas de sua vida. De outro, a mãe insensível e rancorosa, que culpa a filha por ter-lhe roubado seu homem e fecha os olhos para a violência que aconteceu dentro da própria causa. Em uma história com poucos papéis masculinos, aliás, todo o elenco feminino dá show. Acreditem, até Mariah Carey, que interpreta uma assistente social, está convincente, e Paula Patton demonstra segurança ao protagonizar a parte Ao mestre com carinho do filme.

Autora do livro "Push", que deu origem ao filme, a poetisa Sapphire conta que se inspirou em várias de suas alunas para criar sua protagonista. Não me entendam mal, mas é até um alívio saber disso, porque seria humanamente impossível alguém levar uma vida como aquela. Ninguém suportaria. Mas a possibilidade de tudo aquilo ser real só faz o longa ainda mais chocante. Goste ou não, é impossível ficar indiferente à Preciosa. Aviso aos mais sensíveis: não se esqueçam de levar o lencinho. Depois não digam que eu não avisei...

No próximo post: O segredo dos seus olhos
Giselle de Almeida

2 comentários:

Júlio César disse...

Nossa!! Antes de mais nada, quero parabenizá-la pelo excelente blog...
E mais, gostei desse espaço reservado para comentar os indicados ao Oscar...

Abraços!! Te seguirei mais de perto tá bom?!!!

Giselle de Almeida disse...

Oi, J.C., obrigada pela visita e pela preferência. :)