Oscar 2010: Amor sem escalas


Indicado nas categorias: filme, direção, ator, atriz coadjuvante e roteiro adaptado

 

Alguma coisa não casava: eu olhava o título, o cartaz do filme, o nome de George Clooney nos créditos e a indicação ao Oscar. Estamos falando do mesmo filme?, eu pensava. Estávamos. Só que, depois de assistir ao longa de Jason Reitman, a minha impressão não se desfez. Em primeiro lugar, a tradução do original Up in the air dá uma impressão errada da história. Ao contrário do que possa parecer, não é uma comédia romântica nem mesmo uma trama onde o amor seja o tema central. O cartaz, ao mostrar personagens sem rosto no aeroporto, de malas na mão, é muito mais feliz. Como diria o coronel Landa, it's a bingo!

Clooney já provou que é bom ator, e se dá bem por sua versatilidade. Ele consegue alternar como poucos filmes sérios com outros mais leves e até bobinhos. E sua indicação é merecida, embora ele deva muito, muito mesmo, aos roteiristas e ao diretor por um personagem tão bem construído. Ryan Bingham é um cara que ganha a vida demitindo pessoas, e ele encara isso da forma mais natural possível: são apenas negócios. Não que ele seja insensivel, pelo contrário, ele é capaz de compreender e ser solidário ao sofrimento das pessoas que entram em desespero ao perder seu emprego. A questão é que ele vive confortavelmente sem construir vínculos com quem quer que seja. Ocupado, ele não tem tempo para família, amigos ou relacionamentos amorosos que durem mais de uma noite. E para ele está ótimo assim.

Até que a chegada de uma nova funcionária com ideias revolucionárias para a empresa onde trabalha ameaça a sua liberdade de viver na ponte aérea, a desculpa perfeita para evitar contato com as pessoas ese estabelecer em algum lugar de vez. Sabe assim aquele momento em que você tem que parar de fugir dos problemas, encarar as pessoas, deixar-se envolver e correr o risco de quebrar a cara? Pois é. Assustador, mas inevitável, é essa a lição que nosso personagem vai aprendendo ao longo do filme. E dá peninha de ver que a vida pode ser cruel pra qualquer um.

Embora eu tenha gostado do resultado, continuo achando que Amor sem escalas não tem cara de Oscar.  É um retrato bem sincero da nossa sociedade, de pessoas cada vez mais distantes num mundo globalizado,  de como a economia afeta a vida das pessoas, de como não nos damos conta do que é realmente importante pra gente. Apesar dos méritos, não é o tipo de filme que te arrebata. Também acho que não entraria na lista se os candidatos fossem só cinco.

Na direção, Reitman, que também assina a adaptação do roteiro, se sai bem. Ele já tinha demonstrado em Juno que tem sensibilidade suficiente para contar histórias bacanas sem cair na pieguice. Depois de badalado no circuito mais independente, o fato de ter sido lembrado pela Academia significa que está em ascensão. Já as indicações de Vera Farmiga e Anna Kendrick, em atuações apenas corretas, me fazem pensar que bons papéis femininos coadjuvantes estão em falta no mercado. Só pode.

No próximo post: Preciosa 
Giselle de Almeida

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