Oscar 2015: Boyhood


Indicações: filme, diretor, atriz coadjuvante (Patricia Arquette), ator coadjuvante (Ethan Hawke), roteiro original e edição


Não entendo quando alguém (a minoria, felizmente) diz que Boyhood não é nada demais ou não tem história. Talvez o filme mais sensível da temporada, o longa de Richard Linklater merecia um pouco mais de consideração por parte do público. Não só pela originalidade do projeto como por sua execução impecável. 

Em primeiro lugar, não, a proposta de se filmar os mesmos atores ao longo de 12 anos não pode ser desvinculada do resultado final. Isso faz parte da concepção da obra e acrescenta significado: ou você não acha que as transformações físicas e emocionais do elenco não acrescentaram nada às suas performances? Seus questionamentos e vivências e mudanças de opinião não trouxeram camadas extras aos personagens? Sim, trouxeram. E rodar por três meses seria uma escolha muito mais prática do que por mais de uma década, com todos os percalços e imprevistos que um período tão longo implica - se não fizesse diferença, estejam certos de que seria a decisão mais sábia.

Mas se esse aspecto é o que logo chama atenção ao se falar do filme, o conteúdo é outra agradável surpresa. A proposta de Boyhood é acompanhar o crescimento de Mason (Ellar Coltrane) desde a infância até o início da fase adulta, tarefa tão simples na aparência quanto difícil na essência. Todos os questionamentos vividos pelo rapaz são capazes de provocar imediata identificação, por mais diferente que seja a experiência de cada espectador. 

A relação de implicância com a irmã, Samantha (Lorelei Linklater), de amor com a mãe (Patricia Arquette), de distanciamento e fascínio com o pai (Ethan Hawke), e de aceitação com o padrasto,  que vão se modificando com o tempo. A necessidade da independência. Os questionamentos sobre o futuro. Os ressentimentos. Os relacionamentos amorosos. A escolha do próprio caminho. A consciência do amadurecimento.

Cada tema que vai surgindo na tela segue um ritmo fluido e, à medida que vamos enxergando na tela a mudança das feições de cada um dos atores, somos capazes de reconhecer também as transformações pelas quais passamos ao longo da vida. Uma sequência que se destaca é a da personagem de Arquette ao se dar conta da mudança do filho para a faculdade: naquele momento irreversível, ela passa sua vida inteira em revista e se emociona ao perceber a dura passagem do tempo. 

A performance da atriz durante todo o longa, aliás, é memorável. Subestimada no cinema, ela encara com coragem um papel difícil: a mulher doce e dependente, que faz algumas escolhas erradas na tentativa de acertar. Sua jornada mostra diferentes fases, todas defendidas com sinceridade, coisa bonita de se ver. Ethan Hawke, parceiro de Linklater na trilogia Antes do Amanhecer, tem menos tempo de tela, mas não desperdiça nenhum segundo: com seu carisma, ele transforma o pai ausente num dos personagens mais adoráveis do filme. Ellar Coltrane e Lorelei Linklater, por sua vez, demonstram uma segurança pouco comum para atores tão jovens. E fica óbvia a participação do diretor nesse processo, porque é preciso sensibilidade para perceber o potencial de momentos tão singelos numa história tão comum, no bom sentido. Sorte nossa que isso não faltou em Boyhood.


Giselle de Almeida

2 comentários:

Cintia de Sá disse...

Também adorei Boyhood. A história contada transcende as qualidades técnicas. Achei que o filme é mais sobre a passagem do tempo que sobre o menino. Um encanto e muito delicado. 😊

Giselle de Almeida disse...

Sim, o menino é o protagonista, mas o filme vai além. É lindo e emocionante. Não segurei as lágrimas ;)