Oscar 2013: Argo


Indicado nas categorias: filme, ator coadjuvante (Alan Arkin), roteiro adaptado, edição, trilha sonora original, edição de som e mixagem de som


Um filme falso de ficção científica bancado pela CIA para acobertar um plano de resgate de cidadãos americanos do Irã em meio a um grave conflito internacional. Não fosse verdadeiro, o argumento de Argo seria bem pouco plausível. Mas o longa de Ben Affleck conta com o que a realidade pode oferecer de melhor: a imprevisibilidade. Apoiada por um roteiro enxuto, boas atuações, uma direção segura e edição precisa, a produção é mais do que apenas um relato convincente. É o reconhecimento de um herói contemporâneo e de uma ótima história a ser contada.

Nos anos 80, quando a embaixada americana foi tomada por revoltosos iranianos e feitos reféns, seis diplomatas conseguiram escapar e se esconder na casa do embaixador canadense. Dentre todos os planos para trazê-los de volta em segurança, é o do agente Tony Mendez (Affleck) que, num primeiro momento, parece ter mais chances de ter sucesso. A ideia era retirá-los como se fossem parte de uma equipe canadense que foi buscar locações para um filme de alienígenas.

Depois de um início que deixa clara a tensão que ocorria no país na época e o risco real que os americanos corriam, o filme começa a enveredar pelo humor ao contar os bastidores da bem-intencionada farsa. Responsável por boa parte da comédia, o personagem de Alan Arkin se destaca. Na pele do famoso produtor Lester Silver, ele é quem faz os contatos iniciais com roteiristas, imprensa e possibilita erguer os primeiros alicerces do plano. São dele algumas das melhores tiradas do filme, como quando afirma que se vai fazer um falso longa-metragem, quer que seja um falso sucesso. Esse trecho permite algumas ironias a Hollywood aqui e ali, mas nada mais contundente.


Enquanto isso, Mendez, que enfrenta alguns problemas familiares, tenta ganhar tempo com a chefia para que a missão não seja abortada antes da hora. E é aí que faz falta um ator mais tarimbado para o papel, e, à medida que a trama avança, isso vai ficando ainda mais evidente. Já em terras inimigas, o agente precisa ainda ganhar a confiança dos refugiados, que temem um resgate tão arriscado. Com tantos conflitos em andamento, Affleck não consegue transmitir toda a angústia que o protagonista exige, por mais bem-intencionado que seja.

Apesar das limitações como intérprete, o cineasta se mostra competente por trás das câmeras: conduz bem o elenco e estabelece um ritmo ágil para a narrativa. A edição, sem pontas soltas, que consegue transmitir bem o clima hostil que ameaçava qualquer presença inimiga em solo iraniano, ganha ainda mais força no último ato, quando a tensão é imprescindível para a trama. A sequência de eventos que prepara para o empolgante desfecho é de uma precisão cirúrgica, e torna tudo ainda mais emocionante. Mas a cereja do bolo vem só depois que os créditos tomam conta da tela. Imagens reais da época revelam uma necessidade do diretor de se manter o mais fiel possível ao que aconteceu há trinta anos, numa espécie de reverência a esse herói de muita coragem e sem superpoderes. Tony Mendez deve estar orgulhoso.



No próximo post: A hora mais escura
Giselle de Almeida

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