Indicado nas categorias: atriz (Meryl Streep) e maquiagem
Se o objetivo era realizar uma produção para Meryl Streep concorrer com boas chances ao Oscar, os produtores de A Dama de Ferro já podem se dar por satisfeitos. Mas se a intenção era construir um retrato minimamente fiel de Margaret Thatcher, podemos dizer que o longa fracassou. Porque impressionar os espectadores (e a Academia) com uma personagem conhecida, breves referências históricas, políticas e econômicas e uma caracterização marcante é fácil. O difícil é tentar escapar das dificuldades de uma cinebiografia sem cair num filme sem rumo nem personalidade.
O foco aqui é a doença da protagonista, que hoje, aos 86 anos, sofre de Alzheimer. Com a memória bem debilitada e tendo alucinações - que fazem com que ela veja o marido, Denis (o fofo Jim Broadbent), como se ainda estivesse vivo -, nem de longe a frágil senhora lembra a mulher de fibra que governou a Inglaterra por onze anos. E é neste momento que o público é fisgado: é pouco provável que alguém não se compadeça de sua atual situação. Só depois é que o início da carreira política de Thatcher é mostrado, em flashbacks esparsos. A filha de um quitandeiro, com diploma da faculdade, aos poucos ganha o respeito dos homens que duvidavam de sua capacidade. E esse gancho é repetido à exaustão durante os 105 minutos de projeção, num discurso feminista que soa, muitas vezes, forçado. Ao menos, se levarmos em conta que esse aspecto ganha maior importância que as realizações da ex-primeira-ministra ou dos controversos episódios em que ela esteve envolvida durante sua passagem pelo poder.
O trabalho de Meryl Streep é minucioso: a postura, o baixo tom de voz (justificado pela acusação de que Thatcher "gritava muito"), o sotaque, tudo parece bem pensado e ensaiado. Atriz de talento, ela consegue juntar tantos elementos sem criar uma caricatura e alterna doçura e firmeza com uma facilidade incrível. Mas justamente a maquiagem, segunda categoria pelo qual o filme foi indicado, chama demais a atenção para o que a personagem tem de mais artificial, como a prótese dentária, por exemplo. Por outro lado, a transformação de Alexandra Roach, que vive a protagonista quando jovem com muita segurança, merece destaque.
Se o roteiro de Abi Morgan não fornece elementos para construir uma história sólida, a direção de Phyllida Lloyd também não ajuda muito, com seus planos pouco originais e repetitivos (o enquadramento de Thatcher, invariavelmente vestida de azul vista do alto em meio a um grupo de homens de preto é um ótimo exemplo). O resultado é um emaranhado de informações desconexas, e muitas até discutíveis, que não chegam a lugar algum. Pode-se argumentar que a estrutura não-linear seja proposital, numa referência ao estado mental da outrora Dama de Ferro, mas uma cena em particular nos fala muito sobre o próprio filme.
Durante uma consulta, Thatcher diz ao médico que o problema dos dias atuais é que todos só querem saber do que sentimos, e não do que pensamos. E que ela se interessava justamente por pensamentos e ideias. Mas, quando as luzes se acendem, continuamos sem saber o que a ex-premiê britânica pensava ou sentia, já que, desde o início, o longa deixa evidente sua intenção de comover pela empatia e seu pouco interesse em contar a história de uma das figuras mais poderosas da política ocidental recente.
No próximo post: Um gato em Paris
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