Contagion, de Steven Soderbergh. Com Matt Damon, Gwyneth Paltrow e Kate Winslet.
Contágio não foge muito à regra dos filmes de epidemia que você já viu na vida (e que não devem ser poucos): uma boa dose de drama, um toque de alarmismos científicos, várias implicações políticas e uma tentativa de análise do comportamento humano na hora do desespero e da impotência diante da soberania da natureza, mesmo com toda a tecnologia de ponta a seu dispor. Steven Soderbergh consegue conduzir bem a história, contada com a ajuda de um elenco estelar (Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Laurence Fishburne, Marion Cotillard e Jude Law), mas não espere grandes sopros de criatividade ou originalidade. Não há. Como entretenimento funciona, justamente porque segue direitinho a receita de bolo do gênero.
O roteiro de Scott Z. Burns até tenta sugerir uma certa engenhosidade deixando em suspense a origem da trama. O longa começa já no segundo dia de uma iminente contaminação de proporções mundiais. Sem saber que carregava um vírus mortal e, até então desconhecido, a empresária Beth Emhoff (Paltrow) desembarca de Hong Kong demonstrando os primeiros sintomas, que poderiam ser confundidos com a de uma gripe rotineira. Não demora muito para que ela transmita a doença ao filho e a outras pessoas, provocando, assim, uma silenciosa bola de neve. Em outros pontos do mundo, mais indivíduos infectados começam a surgir com uma rapidez impressionante, já que o contágio se dá num simples aperto de mão ou ao tocar uma maçaneta (pontos reforçados enfaticamente pelos inúmeros e incansáveis closes ao longo da narrativa). Por se tratar de uma enfermidade nova, com um número devastador de potenciais vítimas, o governo (americano, claro) entra em cena.
Neste momento, espectadores bem treinados que somos, já percebemos que rumos as coisas tomam daí por diante. Sigilo para evitar o pânico da população, acusações de informações privilegiadas, teorias da conspiração, ataque às indústrias farmacêuticas. E o tal suspense do roteiro fica até meio esquecido nesse enorme emaranhado de tramas paralelas, que interessam mais pela carga dramática do que por algum suposto mistério. A personagem de Marion Cotillard, por exemplo, é mal aproveitada durante boa parte do filme para cumprir uma função só no terço final da projeção. Já o blogueiro metido a jornalista interpretado por Jude Law, em vez de ser o representante da sociedade nessa discussão toda, acaba sendo só uma figura folclórica (Ao menos ele provocou a melhor frase do longa, dita por Elliott Gould: "Escrever um blog não é escrever. É pichar com pontuação").
Apesar dos senões, o ritmo do filme é ágil, e as subtramas conquistam pelo interesse humano. Entre o numeroso elenco, Matt Damon e Kate Winslet merecem destaque. São eles que conseguem aproximar o público de toda a tensão contida naquelas situações tão fragmentadas. É com o drama do viúvo em choque, que ainda precisa ser um pai de família zeloso num momento tão difícil, que conseguimos nos identificar. É com a vida da médica superdedicada que nos importamos. É quando foca nesses microuniversos que Contágio atinge o efeito desejado, não quando derrama números estratosféricos em cada diálogo. Porque alarmismo qualquer filme-catástrofe de baixo orçamento faz, seja através da ameaça um minúsculo vírus ou seres de outros planetas armados até os dentes. Mas criar empatia e nos sensibilizar é muito mais difícil.
2 comentários:
Ainda não conferi este filme, já que sempre estou com um pé atrás com filmes do gênero... O elenco me pareceu bom, sua crítica bem interessante... Vou colocá-lo na minha lista dos "para ver".
;D
Legal, Karla. Depois me diz o que você achou. :)
Obrigada pela visita!
bjs
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