Sete motivos para gostar (ou não) de 'Rio'



Sim, todo mundo já viu Rio. Mas só pude comentar agora. Ah, eu gostei: é leve, é divertido, é simpático.  Mas não é filme pra entrar pra História do cinema nem pra (minha) lista dos dez mais. Tem uma série de defeitos, assim como A era do gelo também tinha, como alguns trabalhos da Disney também têm. Carlos Saldanha podia ter dado uma aliviada nos clichês? Talvez. Mas não aliviou. E acredito que o objetivo (dele, do estúdio, de todos os envolvidos) nem era esse. Só que acho chata essa discussão entre os que acham que a animação reforça os estereótipos versus os que acham o máximo a cidade ganhar visibilidade mundial. A questão é: Rio é um bom filme?

Vejamos o que se andou dizendo sobre a animação:

1) O filme é caricato. Sim, é. E muito. Alguém achou que ia ser diferente? Antes de ser "um filme do carioca Carlos Saldanha", é um filme da Blue Sky e da Fox. Traduzindo: uma produção de um grande estúdio americano, com produtores e roteiristas americanos, feito com um orçamento milionário e destinado a faturar o dobro em todo o mundo. Não é filme autoral nem filme feito para brasileiros. Percebem a diferença? Só isso é suficiente para entender que todos os estereótipos ligados à cidade estariam na tela. É claro que ia ter praia, futebol, samba e favela. Porque agora, vocês sabem, favela também é produto turístico. Quem é do subúrbio, como eu, sabe que o Rio é muito mais do que Zona Sul e comunidades. Mas tem gente que mora aqui a vida toda, que não conhece a própria cidade e ainda pensa isso. Digo mais: se o filme se chamasse São Paulo e tivesse megaengarrafamentos, poluição, barulho excessivo e motoboys loucos, os cariocas iam achar engraçado. E ia continuar sendo estereótipo, batido e pouco representativo da cidade.


2) O filme mostra um Rio que não existe. Na animação, todo mundo é alegre e gosta de samba, as ruas são limpinhas e não existe violência. Ok, concordo. Mas quando vem um blockbuster como Velozes e furiosos 5, que mostra corrupção, violência e outras coisas desagradáveis daqui, todo mundo reclama também. Quer dizer, Tropa de elite pode falar de milícia, políticos corruptos, abuso de poder etc, mas o americano não pode? A comparação aqui é grosseira: não vi (nem pretendo ver) o filme do Vin Diesel. Mas acontece que hipocrisia me cansa. O Rio (e todas as cidades do mundo) tem coisas boas e coisas ruins. Cada um bota lente de aumento nos aspectos que forem mais convenientes. Sempre foi assim e vai continuar sendo, sorry. Relevem. Rio não é documentário.

3) O filme é propaganda turística. E nem é disfarçada. Nossos cartões postais não estão no filme por acaso (assim como a Torre Eiffel aparece em vários filmes ambientados na França, em Rio, se pode ver o Cristo Redentor em quase todos os cantos da cidade). Vocês lembram que, no último carnaval, o Salgueiro tinha um carro falando da animação mais de um mês antes de o filme estrear, patrocinado pela prefeitura? Propaganda da propaganda, com o objetivo de trazer mais turistas pra cá. Nós sabemos disso. Mas vai dizer que não é uma graça ver o tímido Blu tentar dar em cima da Jade no bondinho de Santa Teresa? Ou o protagonista, que não sabe voar, criando coragem para saltar de asa-delta da Pedra da Gávea? No fundo, no fundo, a gente gosta de ver aquelas paisagens tão conhecidas na telona.


4) O roteiro é superficial. Mais do que os clichês, foi o que mais me decepcionou. Se você tivesse que fazer uma sinopse pro Twitter, seria algo do tipo: "Arara azul domesticada vinda dos Estados Unidos chega ao Rio para acasalamento. Acorrentadas, aves cruzam a cidade para se separar". Não parece muito inspirador, né? Se não fossem o competente "elenco", que prende nosso atenção durante boa parte do filme, a gente ia até achar que não havia razão nenhuma para os personagens se meterem num desfile de escola de samba. E, cá entre nós, não havia. Também faltou um humor mais elaborado, mas algumas piadas funcionam sim. Não vamos ser ranzinzas. 

5) Os números musicais são decepcionantes. Gente, sério que precisavam contratar o Sergio Mendes para usar, mais uma vez, "Mas que nada", tocada à exaustão no mundo todo depois que foi redescoberta e repaginada pelo Black Eyed Peas? Tirando uma ou outra canção, a trilha sonora é chatinha, e os números musicais são sem-graça (alguns chegam a ser constrangedores). Deu saudade dos clássicos da Disney.


6) Os personagens são carismáticos. O melhor do filme. Ignorei que Blu era o chatinho do Jesse Eisenberg e vi na versão dublada. As fofas ararinhas são o melhor, mas os tucanos, o buldogue Luiz e os miquinhos (sim, patrulheiros do politicamente correto, os miquinhos) também são ótimos. Como sempre, os animais são mais divertidos que os humanos.

7) O visual é deslumbrante. Além da incrível recriação das paisagens cariocas, como os Arcos da Lapa, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e que tais, o 3D impressiona. E olha que o filme não utiliza aquele recurso pobre (e irritante!) de fazer tudo saltar na sua direção, como quem diz: "Yes, we have 3D!". Todos os detalhes foram cuidadosamente pensados: os volumes, as texturas, as cores, tudo é bem agradável de ver. Impecável. 
Giselle de Almeida

8 comentários:

Fabiane Bastos disse...

Colocando na balança Rio, ganhou meu respeito. É um bom filme!

As falhas? Quando geram boas discussões como esta, não são um total desperdício de película.

P.S.: Acho que vc descobriu um sub gênero do 3D. Vou passar a colocar em minhas resenhas - Gênero: "Yes, we have 3D!" - p/ todo filme que jogar coisas na gente!

Giselle de Almeida disse...

Também achei, Fabi. Apesar de alguns defeitos, dá pra ir ao cinema sem medo. E é bonitinho, no fim das contas :)

Angela disse...

Giselle, adorei seu blog!!! Muito bacana, parabéns!

Giselle de Almeida disse...

Obrigada, Angela! Seja muito bem-vinda!

bjs

Cherry disse...

achei sua resenha muito preconceituosa. eu achei o filme muito realista e respeitoso com a cultura nacional, tudo na visao de um gringo, claro... se vc acompanhar um gringo no rio de janeiro, vc vai enxergar um blu (atrapalhado, estranhando a tudo, e ao mesmo tempo achando fantástico). achei q retratou bem o rio: os trombadinhas, as "dentistas" q viram dançarinas no carnaval, os corruptos, os malandros, os pobres, só faltaram os traficantes de drogas, mas abordou os traficantes de animais. uma perspectiva vinda de fora é sempre muito bem vinda na minha opiniao. se vc ver o filme "jean charles" vc verá a inglaterra de uma perspectiva brasileira e nem sempre um inglês irá concordar. ah, e por favor.. falar mal de um filme que vc não viu é o cúmulo

Giselle de Almeida disse...

Oi, Cherry.

Acho que você não entendeu muito bem o espírito da coisa. Eu não escrevi uma resenha. Meu texto é dividido em tópicos, para argumentar sobre os comentários que ouvi sobre o filme. Justamente porque achei algumas opiniões rasas. Com algumas eu concordei, de outras discordei. Mas gostei de "Rio", apesar de achar que seu ponto forte é mesmo o visual, não o roteiro. Não tenho preconceito algum, e sou grande fã de animações. Mas não dá para negar que o longa de Carlos Saldanha reúne um punhado considerável de estereótipos.

E de onde você tirou que eu não vi o filme??? Criticar não quer dizer falar mal, mas analisar com critérios.

Obrigada pela visita e pelo comentário.

Abs

Cherry disse...

me referi ao filme velozes e furiosos q vc não viu. fiquei surpresa por vc ter postado minha crítica. vc tem um estilo voltaire, defende as opiniões acima de tudo. gostaria que vc visitasse meu blog e se pudesse me criticar eu ainda ficaria honrada. diz-se que meu estilo é erótico, mas não é verdade: é drama, só com uma fachada de sexo.
gostei muito do seu blog, espero q poste mais.
abraço

Giselle de Almeida disse...

Cherry, todo mundo tem o direito de discordar do que escrevo aqui, acho debate de ideias uma coisa saudável. Só não publicaria um comentário com ofensas gratuitas.

Entendi agora sua colocação, mas também não falei mal de "Velozes e furiosos 5". Se você reler com atenção, vai ver que eu defendi o filme. O Rio tem violência, corrupção, milícia. Eles podem até ter exagerado, mas não inventaram nada disso. E só não vi o longa porque não sou fã da franquia... O problema é que brasileiro fica ofendido quando um gringo fala mal da gente. Este filme não é o primeiro nem será o último. Temos é que aprender a lidar com isso.

Qualquer hora apareço lá no seu blog sim. Obrigada pelo convite.

Abraço