Encare se for capaz



Duvidei que fosse gostar de Enterrado vivo por três motivos. Primeiro e mais óbvio deles: sou um tantinho claustrofóbica. Então não seria uma boa encarar um filme em que o protagonista fica preso em um caixão durante 97 minutos. Segundo: achei arriscado essa trama tão limitada fisicamente prender minha atenção durante tanto tempo, já que seria praticamente impossível criar muitas situações variadas de tensão nessas condições. Terceiro: não sou lá grande fã de Ryan Reynolds. Apesar de ter gostado bastante de A proposta, não consigo achá-lo bonito, carismático ou bom ator. É, eu sei que sou minoria, meninas... O negócio é que... funciona.

Sente o clima: o motorista de caminhão Paul Conroy, que trabalhava no Iraque, acorda de repente depois de desmaiar durante um ataque de insurgentes e descobre que está enterrado vivo (dãã) no meio de um lugar qualquer. Imagina o desespero! Reynolds segura bem a onda, o roteiro é enxutinho e politicamente incorreto na medida certa e o diretor Rodrigo Cortés merece um aplauso pela ousadia. Gente, tudo bem que foi uma economia danada de elenco e cenários (sorry, não podia perder a piada), mas não é pra qualquer um conseguir fisgar o espectador em condições tão atípicas. A grande sacada foi tirar sarro da própria situação. Durante todo o tempo que está preso, Paul se vê às voltas com poucos objetos, que podem se transformar na única chance que ele tem de sobreviver: um isqueiro e um celular (com sinal!). Só mesmo sendo o MacGyver para encurtar esse sufoco com tão poucos recursos disponíveis.

O fato de ele não saber onde está enterrado é o maior, mas não o único dos problemas. Ou você acha que ele conseguiu falar de primeira com alguém para resgatá-lo lindo e louro? Nananinanão. Antes vem os problemas técnicos, a desconfiança alheia, as secretárias eletrônicas, os atendentes robóticos, as empresas capitalistas, o governo tirando o corpo fora. Alguma semelhança aí com a vida real? Pois é. Você pode até achar engraçado num primeiro momento, mas chega uma hora em que tudo vai se tornando revoltante. A sensação é de importência. E conforme o tempo vai passando, alguns complicadores vão surgindo pelo caminho, como se a situação (quem viu o filme vai rir dessa palavra) não fosse aterrorizante o suficiente. Eu já estava imaginando o desfecho, mas alguns acontecimentos bem no finzinho tornam tudo ainda mais emocionante. Filme corajoso e bem executado. Fica a dica.

Giselle de Almeida

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