Sobre karatê, kung fu e nostalgia


Eu entendo que a palavra remake pode causar calafrios entre os cinéfilos, principalmente se estiver relacionada a um clássico que marcou nossa infância ou adolescência. E olha que isso não tem muito a ver com a qualidade da obra, mas com nossa memória afetiva. Mas juro que não entendi uma certa rejeição que li em algumas críticas a Karatê kid. Podemos até fazer algumas ressalvas (afinal, por que o kung fu?), mas o filme, além de fazer uma bela homenagem ao original de 1984, é um bom filme também para a geração que não cresceu assistindo a Daniel San treinando sem parar na "Sessão da tarde".

Para começar, Jaden Smith é uma acertadíssima escolha para o protagonista. Sim, foram papai Will e mamãe Jada Pinkett que puseram dinheiro na superprodução, mas o talento do garoto é uma questão indiscutível. Ele provou isso desde que era o adorável pirralhinho de 8 anos que me fez chorar horrores no drama À procura da felicidade. Ah, e não podemos esquecer que ele tem muito menos experiência que Ralph Macchio, que, apesar da cara de moleque, já era um marmanjo de 23.

Além disso, o roteiro de Christopher Murphey faz citações ao primeiro filme em vários momentos. Sério, as referências (e a reverência) são tantas que muitos diálogos, ainda que curtos, chegam a ser iguais. Uma das cenas mais divertidas é a de Mr. Han (Jackie Chan) tentando pegar uma mosca voando com pauzinhos, tal qual o Sr. Myiagi (o inesquecível Pat Morita). Mas ele logo perde a paciência e apela para um mata-mosca! Bom demais. O humor, aliás, está presente no longa o tempo todo. E não são naquelas gracinhas acrobáticas a que Chan está acostumado, mas com sutileza. Parece que o ator, que já não é mais nenhum garoto, decidiu assumir de vez a idade. Pouco à vontade num papel tão introvertido, ele até que segurou a onda. Só que eu li numa entrevista que ele queria provar que é bom ator dramático também. Acho que está caminhando pra isso.

De resto, a estrutura da refilmagem é a mesma: garoto muda de cidade contra a vontade e tem problemas de adaptação. Ao se apaixonar por uma menina bonita do colégio, passa a ser perseguido pelos valentões do lugar, que, pra piorar, são excelentes lutadores. A diferença está é nos detalhes: em vez da Califórnia, a mudança agora é bem mais radical, para a China, o que garante situações engraçadinhas com a dificuldade da língua e cenas espetaculares na Cidade Proibida e na Muralha da China, por exemplo. Viu só? Tudo tem um lado bom.


Por tudo isso, não dá pra entender o chororô de "não tem a mesma magia". Ah, gente, tem horas em que  precisamos separar o que é qualidade mesmo de nostalgia. Quer um exemplo? A sequência final do filme de 84, a do torneio, parecia bem mais emocionante na minha memória. Pois acabei de revê-la e me pareceu só ok. Na nova versão, com uma edição bem mais ágil e alguns minutos a mais, ganhou em importância na trama.

Resumindo: Karatê kid é uma história de superação, tem lição de moral, o menino recém-chegado ganha a garota de um faixa preta e ainda o derrota no torneio com pouquíssimo tempo de prática. Tudo mentira, mas a gente adora. A nova versão deu uma atualizada na história e respeitou tudo que era importante no primeiro longa. Não é esse o primeiro e mais importante dever de um remake? Pois esse não só me agradou como me deixou morrendo de vontade de rever o original. Missão dada, missão cumprida.
 


Giselle de Almeida

3 comentários:

Leonardo Marinho disse...

Concordo com você, Giselle. O filme agrada sim, e muito.

Cresci assistindo Daniel-san e desejando me tornar um discípulo do Senhor Miyagi. Mas esse novo Karatê Kid me agradou bem mais que o primeiro.

A história é mais aprofundada e há uma maior atenção aos detalhes que fazem toda a diferença no produto final. Acabei comprando mais a briga do garoto desse filme que do pobre Daniel-san.

Fora algumas coisas bem loucas, como o golpe da gravidade zero que ele usa no final (Sério, o que foi aquilo?) e o final, que, assim como o primeiro, acaba sem mais nem menos, o filme segura as pontas e diverte muito.

Destaque para o Jackie Chan que não consegue mais esconder os sinais da velhice. Fico triste, sou fã dos filmes dele e espero que, apesar de já estar na casa dos "enta" (quarenta, cinquenta...), ele ainda consiga render boas pancadarias. Provou não ser apenas um brincalhão que sabe brigar e interpretou muito bem um papel mais dramático.

E vamos que vamos...

Fabiane Bastos disse...

Não é que agente finalmente concordou em algo que não tinha Johnny Depp!!!! Cedo ou tarde ia acontecer,rs.

Sério que Daniel Sam era tão velho? Nessa me enganaram direitinho.

O filme é legal mesmo, até torna suportável ouvir Justin Biber.

Giselle de Almeida disse...

Que bom que vocês também gostaram! Eu me diverti no cinema. E pelo visto vamos ter um "Karatê kid 2" em breve...