À moda antiga


Quando foi a última vez que você escreveu uma carta? Pois é, eu também não lembro. Receber, então, só contas. Minto. Há uns meses minha mãe avisou: "Chegou carta pra você". E eu, pensando com meus botões: "Deve ser a fatura do cartão de crédito". Não era. Era da minha tia, que atualmente mora em Londrina. No meio de uma mudança, ela achou um papel em que eu escrevi quando era bem pequenininha, devia ter uns quatro ou cinco anos. Agora me fugiu o texto, mas era uma frase completa! O papel, amarelado que só ele, dedurava o tempo transcorrido. Achei o máximo. Tanto por ver minha letra de criança quanto por receber uma carta endereçada a mim. Coisa que eu achava que só meu banco e as malas diretas da vida fizessem.

Pois bem, comecei esse papo todo porque acabei de ler o livro "Tudo que eu queria te dizer", da Martha Medeiros. Só conhecia a escritora gaúcha pelas colunas dominicais no Globo, mas acho o texto dela muito bom, sem contar que ela sempre tem uma coisa interessante a dizer, mesmo sobre as coisas mais banais. O livro é formado de pequenos contos, na verdade cartas, escritas por personagens diferentes para destinatários diferentes, sem relação entre eles.

O formato é bem simples, mas é incrível como a palavra escrita tem força. Em cada carta, tem uma pessoa exposta, suas dúvidas, seus anseios, seus medos. Pode ser que, na vida real, ninguém se abra tanto ao escrever para alguém. Mas este é só o pretexto ideal pra Martha se colocar no lugar de cada personagem, dizer suas verdades, coisas que nem sempre fazemos. Em tempos de email, em que a gente diz apenas o básico, em geral cheio de abreviações, por ser mais prático, é cada vez mais difícil sermos tão sinceros, explícitos, profundos, trágicos. Dramática, eu? É que estou escrevendo, não estou? :)
Giselle de Almeida

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