Terceira temporada de 'Sherlock': segundas impressões



Sim, eu precisei assistir à terceira temporada de Sherlock mais uma vez antes de escrever esse post. Porque, vocês sabem, esses três últimos episódios foram bem diferentes de tudo que a série vinha apresentando até então, e isso causa um estranhamento natural. Mas a questão fundamental ainda ecoava: trata-se, enfim, de uma boa temporada? À primeira vista, eu diria que não. Agora, minha tendência é ficar com o "sim".

(Milhões de spoilers a seguir)

 Foram dois longos anos de espera. E "The Reichenbach fall" não foi um episódio qualquer: os 90 minutos que precedem a falsa morte de Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch) são dos mais interessantes da produção. E é genial como "The empty hearse" brinca com a expectativa dos fãs sobre a resolução do mistério. Talvez os criadores Steven Moffat e Mark Gatiss tenham se deixado levar demais pelo hype que se criou em torno da atração durante o Grande Hiato? Talvez. Mas, além de ser uma referência direta à resposta do público (algo que não me lembro de outra série ter feito), foi bem inteligente. A comédia aliviou a responsabilidade de uma resposta definitiva. Lembram da reação do Anderson (Jonathan Aris) quando ele ouviu a explicação "definitiva" do próprio Sherlock? "Decepcionante". Ao que o detetive prontamente responde: "Todo mundo é um crítico". Que me desculpem os ranzinzas, mas bom humor é fundamental.


Outro ponto controverso do episódio foi o "caso do dia", que recebeu bem menos importância do que de costume. Acho que essa foi minha grande decepção, logo de início. Todo fã de série/filme de investigação quer acompanhar a investigação do enigma (e por que não antecipar a solução?). O raciocínio brilhante de Sherlock só torna tudo ainda mais instigante nesse programa que nos acostumou bem, sempre com casos bem sólidos. Mas, diante de tantas distrações, o tal atentado terrorista em Londres ficou em terceiro plano, o que não deixa de ser frustrante. Depois de rever a temporada, no entanto, fiquei com a impressão de que a dinâmica não poderia ser outra: caso contrário, o principal aspecto desse retorno perderia o destaque. Sim, o reencontro de Sherlock e John Watson (Martin Freeman). Afinal, é a dupla que nos faz voltar à assistir ao programa, não é? De que adianta uma estrutura bem amarrada, diálogos espertos, fotografia caprichada etc. etc. etc., se os protagonistas não nos cativam? E nunca na série foi tão importante que o relacionamento dos dois ganhasse esse destaque.

Vocês se lembram da despedida de Watson no túmulo de Sherlock. Foi de partir o coração. O detetive também se lembra, mas, como ele não tem bem um coração, resolveu fazer piada com o amigo. Quem mais voltaria dos mortos dois anos depois sem dar nenhuma explicação e zombaria do bigode do melhor amigo? E a hilária reação do médico diz muito sobre o que ele passou em silêncio nesse período. Mas agora há uma terceira pessoa que perturba de alguma forma essa relação tão saudável e equilibrada (ok, nem uma nem outra): Mary (Amanda Abbington, mulher de Martin Freeman), a futura senhora Watson. O desenvolvimento dela na série é sutil e, por isso mesmo, incrível: quando nos afeiçoamos a ela, o fim da temporada nos surpreende. E, se você se sentir traído como John, foi porque você também não notou as pistas que estavam lá desde o começo.


O segundo, sem dúvida, é o mais estranho dos três episódios: ambientado exclusivamente no casamento de John e Mary, recorre a constantes flashbacks para montar o caso do dia, que, na verdade são três (que só fazem sentido completamente no desfecho da trama). Definitivamente, alguma coisa está fora da ordem. E a ausência de ligação imediata com o arco da temporada (o anunciado vilão, Charles Augustus Magnussen, vivido por Lars Mikkelsen, foi apenas sugerido no capítulo anterior) causa ainda mais angústia. Minha impressão sobre o episódio só melhorou depois de uma segunda vista, sem a rejeição inicial e já ciente das pistas que se justificam no conjunto da temporada.

Mas ninguém há de negar que apenas o impagável discurso de Mr. Holmes como padrinho já é o suficiente para justificar a existência de "The sign of three". Ele é tão insensível a ponto de preocupar o inspetor Greg Lestrade (Rupert Graves) - e mobilizar a Scotland Yard por tabela - para escrever um simples texto. E tem dificuldade em reconhecer quando está sendo inconveniente ou está insultando alguém (notem-se as caras de constrangimento entre os convidados). Sherlock continua sendo Sherlock, mesmo que em alguns momentos demonstre uma certa empatia com outros seres humanos. Nada grave. Mas se é verdade que o álcool revela o verdadeiro caráter das pessoas, já é possível afirmar que ele é gente finíssima (e muito divertido, mas disso a gente já sabia).


"His last vow" fecha a temporada de uma maneira mais tradicional, com o vilão apresentado de cara e um caso a ser resolvido. Mas a história principal e suas críticas veladas à mídia ("Eu não preciso provar nada, eu simplesmente publico") não me empolgaram tanto, embora o tipo criado por Mikkelsen (irmão do Mads Mikkelsen, de Hannibal) seja bem interessante: as cenas dele lambendo o rosto da vítima e urinando na lareira do apartamento em Baker Street são memoráveis. Entretanto, o que realmente movimenta a season finale é a descoberta de que Mary não é a inocente enfermeira que afirmava ser, mas alguém com um passado comprometedor. A sequência em que Sherlock leva um tiro e raciocina milhões de coisas ao mesmo tempo em poucos segundos já é uma das melhores da série (aliás, é sempre divertido entrar na cabeça dele, como vimos durante o caso "The mayfly man", no episódio anterior). 

Mas é no jogo psicológico entre Mr. Holmes e Mary e no drama envolvendo o casal Watson que está o melhor da história. Pobre John. Ele partiu meu coração mais uma vez ao se esforçar para tratar a mulher, recém-alçada à condição de estranha, como uma simples cliente e me fez chorar (de novo!) ao jogar fora o pen drive que continha as informações sobre seu passado. Quando é que essa série virou um drama? Não me entendam mal, não faltaram momentos engraçados, como Sherlock drogado, envolvido com Janine (Yasmine Akram) ou dopando seus pais (vividos pelos verdadeiros pais de Benedict Cumberbatch). Mas emoção mesmo foi ver o avião do nosso detetive favorito dar meia volta por causa dele. Sim, Moriarty (Andrew Scott), nós sentimos sua falta.

P.S.: por favor, não fiquem tão obsessivos procurando uma explicação para a volta do Moriarty. Lembrem-se do Anderson... 
Giselle de Almeida

Um comentário:

Geisy Almeida disse...

Essa terceira temporada me fez amar o Watson de vez. E, definitivamente, tirou ele do cargo de "bengala" para o Sherlock, que é como muita gente ainda vê o personagem. =)