Oscar 2013: O impossível


Indicado na categoria: atriz


Uma história verdadeira. As palavras realçadas na tela, antes mesmo de o filme começar, apenas reforçam o que exemplares do gênero buscam sempre: a identificação do espectador com os personagens. O episódio - o tsunami que devastou a Indonésia em 2004 - ainda é recente na memória coletiva, nem era preciso tanto esforço. Até por isso (e também pelo bom senso), o roteiro de Sergio G. Sánchez talvez pudesse ter escolhido soluções menos milagrosas para determinados momentos cruciais da trama, o que tornaria O impossível mais "possível".

Ao retratar a tragédia, o longa dirigido por Juan Antonio Bayona (do ótimo O orfanato) apresenta cenas bastante impactantes, que tentam recriar, com a ajuda de bons efeitos especiais, os estragos causados pelas ondas gigantes na vida dos envolvidos. O nível de realismo impressiona, mas logo percebemos que o  desastre não será mostrado de forma macroscópica, mas sim pelos olhos de uma família britânica (inspirada numa família espanhola) que estava no lugar errado na hora errada. A partir daí, o drama explora ao máximo a jornada de seus protagonistas, Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor), Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast), que chegam à Tailândia na véspera de Natal buscando dias tranquilos num lugar paradisíaco. Mas, apenas um dia depois da confraternização, a natureza se encarregou de acrescentar tons muito mais dramáticos a essas férias.


Passado o susto, o drama toma conta do filme: feridos, assustados e indefesos, os membros da família sofrem com a abrupta separação e com a falta de notícias uns dos outros. E é fácil perceber que apenas isso garantiria boa parte do suspense da narrativa. O grande problema é que as soluções apresentadas para reuni-los parecem forçadas: certos encontros e desencontros são, notadamente, um toque da ficção que tenta "melhorar" a realidade a qualquer custo. Embora renda alguns planos interessantes, como o de Lucas e Henry cruzando os mesmos corredores de hospital sem dar conta da presença um do outro, outras vezes o artifício cria situações inverossímeis, como a cena em que Maria, à beira da morte na cama de hospital, quase sente a presença do marido, a uma cortina de distância. 

A grande força do filme, porém, está em seus atores. Atriz competente, Naomi Watts cumpre bem sua função, assim como McGregor: ambos conseguem o equilíbrio necessário entre a fragilidade e a necessidade de seguir em frente, mais pelos filhos do que por si próprios. Mas a grande surpresa são as crianças. Tom Holland, o mais velho, impressiona pela naturalidade em cenas que exigem muito até de atores adultos. Já os pequenos Samuel Joslin e Oaklee Pendergast, que poderiam ser apenas crianças fofas que decoram bem seus textos, parecem compreender de verdade a situação, apesar da pouca idade. A cena em que Henry pede ao menino de sete anos que cuide do caçula, numa clara inversão de papéis, é um exemplo. "Nunca tomei conta de ninguém", ele dizia, emocionado.

Com o foco direcionado aos Bennett em quase tempo integral, a produção perde ainda boas oportunidades de explorar as subtramas. Os momentos de solidariedade, que poderiam ajudar a construir um retrato mais abrangente da situação, aparecem apenas quando contribuem para aumentar o nível de emoção em relação aos protagonistas. E mesmo quando parece criar uma visão um pouco mais crítica em relação ao ocorrido - já em seu desfecho, quando a presença do funcionário do seguro garante um tratamento diferenciado de uns em detrimento de outros -, a produção volta ao drama mais pessoal, e a intenção acaba se diluindo. Para o filme, o final feliz em meio à tragédia soa mais interessante, mas isso não é obra da ficção. Neste quesito, a realidade ainda é insuperável.



No próximo post: Lincoln
Giselle de Almeida

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