007 - Operação Skyfall



Há algo de diferente no novo James Bond. 007 - Operação Skyfall, que tem Sam Mendes na direção, consegue a façanha de trazer uma certa modernidade e bastante sofisticação ao personagem, ao mesmo tempo em que respeita a história do agente secreto e faz até algumas referências (ou seriam reverências?) a esse passado. Tudo isso sem perder a o rumo: a trama continua sendo de um filme de ação, entremeada com diálogos espirituosos. Entretenimento do bom, bonito de ver.

O primeiro grande acerto está no roteiro de Neal Purvis, Robert Wade e John Logan, que deixam de lado o espírito megalomaníaco e conspiratório de muitas das tramas da franquia - que podiam funcionar bem na época da Guerra Fria, mas hoje soam apenas deslocadas. O grande perigo que ronda o filme tem um objetivo bem mais primário: vingança. E, dessa forma, há que se reconhecer, tudo fica muito mais plausível. Dado como morto durante uma operação, Bond (Daniel Craig) se apresenta novamente quando a MI6 sofre um atentado. Sua missão é descobrir quem é o terrorista que ameaça expor a identidade de vários agentes do serviço secreto britânico a qualquer momento.

Como é de praxe, o longa é ambientado em várias partes do mundo, e é nessa transição que se torna mais evidente o capricho da fotografia de Roger Deakins, de uma elegância rara em produções do gênero. A plasticidade das cenas impressiona, em especial na sequência em que Bond enfrenta Patrice (Ola Rapace) num prédio em Macau: além de belo, o jogo de luzes e sombras ainda tinha função dramatúrgica, pois ajuda a camuflar os personagens. Mas há lindíssimas sequências rodadas também na Turquia, em Xangai e na Escócia, além de Londres, é claro.

Sustentando o título de 007 pela terceira vez, Craig parece mais à vontade no papel, justamente quando este lhe exige mais: além de ter a confiança em M (Judi Dench) abalada, ele é testado à exaustão fisica e emocionalmente para voltar à ativa. No entanto, basta Javier Bardem aparecer em cena (e isso demora um pouco a acontecer) para colocar o filme no bolso: seu Raoul Silva, visivelmente um desequilibrado obcecado pela chefe da MI6, provoca medo mesmo com todo o ar de deboche, o jeito afeminado e o visual cafona. Já não se pode dizer que Ralph Fiennes cause tanto impacto: o ator faz sua estreia na franquia num papel importante, mas com uma atuação totalmente burocrática. Gareth Mallory, presidente do Comitê de Inteligência e Segurança, não inspira empatia tampouco provoca rejeição. Passaria despercebido se não fosse um papel fixo na série a partir de agora.



Entre os novatos, quem se destaca é Bérénice Marlohe, na pele da misteriosa Sévérine. Naomi Harris, como Eve Moneypenny, e Ben Whishaw, como Q, por sua vez, apresentam desempenhos apenas corretos. Mas seus personagens têm um importante simbolismo na trama. A secretária e o armeiro são figuras tradicionais nos filmes do agente secreto, e não haviam aparecido apenas nos dois filmes anteriores (curiosamente os dois protagonizados por Craig) da série. Uma volta ao passado, portanto, apesar das licenças poéticas - ela com experiência em campo, e ele sendo um jovem. 

Mas existem ainda outros toques sutis que garantem o gostinho nostálgico do filme, como a aparição do clássico Aston Martin DB5 e os famosos gadgets que fazem parte do imaginário do personagem, como canetas explosivas e o "moderníssimo" rádio usado pelo protagonista, citados agora como piada. Como se vê, é possível modernizar o personagem sem desrespeitar suas características. Já o fato de Bond ser extremamente sedutor e um mulherengo incorrigível foi claramente diluída neste filme. O sexo aparece apenas como insinuação em dois rápidos momentos, em que quase não se vê nudez. Um pouco de conservadorismo que não chega a prejudicar a trama.

É curioso notar que essa viagem no tempo também se dá dentro da própria trama, já que Bond, em determinado momento, precisa voltar à casa onde foi criado e relembrar momentos trágicos do passado.  Ainda assim, o presente também lhe reserva alguma tristeza - o que não o impede de seguir em frente, no entanto, como uma espécie de cavaleiro das trevas que estará sempre presente quando Londres estiver em perigo (reparou na foto que abre este post?). Realmente há algo de diferente nesse novo James Bond. Parece que ele amadureceu.
Giselle de Almeida

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