Oscar 2012: Millennium - Os homens que não amavam as mulheres


Indicado nas categorias: atriz (Rooney Mara), fotografia, montagem, edição de som e mixagem de som


Os fãs de David Fincher se rasgam em elogios e juram de pés juntos que o remake é superior ao original - afirmação que tem muito valor, pois se trata de uma façanha rara. Mas a versão americana e a sueca de Millennium - Os homens que não amavam as mulheres guardam mais semelhanças do que se diz por aí. E, justamente por isso, essa refilmagem, lançada tão pouco tempo depois do primeiro longa, só tem uma justificativa: catapultar a carreira de Rooney Mara. Talvez seja necessária uma consulta ao Google para associar o nome à pessoa: a atriz é a mesma pessoa que arrasou o coração de Mark Zuckerberg em A rede social, do mesmo diretor. Irreconhecível, ela agora encarna com propriedade Lisbeth Salander, a famosa protagonista da trilogia Millennium, best seller de Stieg Larsson.

O principal desafio de Mara era criar uma personagem com personalidade própria, já que a atuação de Noomi Rapace tinha sido marcante no filme escandinavo. Mas isso não pareceu um problema: enquanto a sueca emprestou à hacker gótica uma raiva visceral de quem tem contas a acertar com o mundo todos os dias, a americana prefere um caminho mais sutil, de quem já se acostumou à sua condição de outsider. Sua Lisbeth tem conflitos, mas eles ficam bem mascarados sob sua aparência pouco usual, sua postura reticente, seus olhos baixos, seus ombros encolhidos, suas poucas palavras. Estranha, seria a palavra. E é nessa estranheza que reside a originalidade da história. O que resta é uma trama policial com altas doses de violência.


Contratada por uma firma de investigação particular, Lisbeth começa a vasculhar a vida do jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig, apagado a maior parte do tempo), recém-condenado pela Justiça depois de uma polêmica reportagem acusando, sem provas, um importante empresário. Mas os caminhos dos dois só vão se cruzar de verdade bem adiante, quando ela o ajuda a desvendar um misterioso crime: o desaparecimento de uma jovem de 16 anos, em 1966. Atormentado pelo caso sem solução há quatro décadas, Henrik Vanger (Christopher Plummer) é quem incentiva essa tardia busca por respostas.

Fincher tem estilo, e isso fica claro em suas escolhas estéticas: a trilha sonora alternativa, a fotografia acidentada, cenários cobertos de neve... Tudo contribui para criar uma atmosfera pouco amigável. Mas o roteiro de Steven Zaillian também segue esse caminho e constrói uma trama tão fria quanto Hedestad. Todo sinal de afetividade que havia no livro ou no filme original foi devidamente limado. Um bom exemplo é a ligação entre Blomkvist e a vítima na infância, que poderia ser entendido como um dos motivos que levaram o repórter a aceitar a proposta de Henrik de largar tudo em Estocolmo e se dedicar exclusivamente a descobrir o paradeiro de Harriet. 


Motivação, aliás, é um dos grandes problemas do roteiro. Apesar de o filme ser longo (são 158 minutos de projeção), Zaillian e Fincher têm tanta pressa para chegar às ações que as razões dos personagens são quase sempre pouco convincentes ou mal explicadas. Não seria de bom tom explicar que, além de falido e desmoralizado publicamente, o jornalista estava condenado à prisão? E que conseguir provas contra Hans-Erik Wennerström (Ulf Friberg) seria seu passaporte para a liberdade, mais até que uma vitória moral? E que tal a justificativa para Lisbeth se juntar à investigação? No momento em que faz uma descoberta, a primeira no caso em 40 anos, Mikael decide: "Preciso de uma assistente", diz ele. "Tenho uma em mente", responde o empregado de Henrik. Parece crível?

É curioso também como o remake recria muitas passagens do longa de Niels Arden Oplev com fidelidade, inclusive as fortes cenas de estupro e vingança, ao mesmo tempo em que modifica alguns acontecimentos importantes, incluindo o clímax e o desfecho. Não deveria ser o contrário? Fiel à essência e original na forma de contar a mesma história? Mas basta uma montagem mais ágil e moderninha para muitos se darem por satisfeitos. Ao menos os produtores merecem créditos por manterem a Suécia como cenário, em vez de transportarem a trama para alguma cidade americana. Aí já seria um pouco demais.

 

Giselle de Almeida

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