Alcatraz: vem aí outra série sobre pessoas?



Misteriosos desaparecimentos numa ilha. O nome de J.J. Abrams nos créditos. Antes que você diga que se trata de uma série sobre pessoas, caro leitor, devo dizer que Alcatraz, felizmente, não pretende ser uma nova Lost. Pelo contrário: Abrams já andou declarando que o caso do dia vai ser mais importante que a mitologia. Isso soa mais como uma tentativa de afastar possíveis reclamações daqueles que acharam o fim de Lost um despropósito sem tamanho do que a real ideia da série, que estreia na Warner no próximo dia 22. No episódio duplo de estreia, ficou claro que um fio condutor misterioso vai ser revelado bem aos poucos. E, cá entre nós, esse é o seu diferencial, não? De boas intenções e séries procedurais, a TV já está cheia.

A estreia de Alcatraz não foi de tirar o fôlego, mas foi bem digna e muito mais interessante que Person of interest, é preciso dizer. O que parecia ser apenas mais um assassinato a ser investigado pela detetive Rebecca Madsen (Sarah Jones) ganha contornos mais elaborados quando o principal suspeito do crime é um prisioneiro dado como morto há mais de trinta anos. Puxando esse fio, a policial, com a ajuda do especialista Diego Soto (Jorge Garcia) descobre que há muito mais por trás disso, e mais de duzentos homens simplesmente desapareceram do lugar sem deixar vestígios. Agora, eles começam a surgir misteriosamente, sem envelhecer nem um dia. Onde eles estiveram esse tempo todo? Por que só agora voltaram a aparecer? Quem os trouxe de volta, e com qual objetivo? Obviamente essas e outras tantas perguntas vão ficando pelo caminho enquanto a audiência for boa. Resta torcer para que sejam respondidas satisfatoriamente (atenção para o satisfatoriamente) ao longo das temporadas.


Pelo que se viu até agora, parece valer a pena acompanhar um pouco mais da jornada, menos pelos casos em si (que não são empolgantes o suficiente), mas pelas lacunas a serem preenchidas e pelas pequenas informações sobre os personagens reveladas ao fim de cada episódio, indicando que eles podem não ser exatamente como imaginamos à primeira vista. E essa, afinal, é a graça do jogo. Daí o motivo para relevarmos algumas frases de efeito totalmente dispensáveis ("Isso aqui é Alcatraz. Ninguém esquece") e alguns diálogos do tipo mais-clichê-impossível ("Você não pode se culpar pelo que aconteceu", a uma policial que acaba de perder seu parceiro). 

O que podia melhorar muito é a direção de atores. A protagonista Sarah Jones, a Olivia Dunham da vez, não tem o mesmo carisma da australiana Anna Torv e é pouco convincente em vários momentos importantes. Sua personagem tem uma ligação com a prisão que poderia ser tão mais explorada, e daria mais legitimidade à sua vontade de aceitar o convite do enigmático Emerson Hauser (Sam Neill) de correr atrás dos próximos criminosos vindos do túnel do tempo. E também não faria mal gastar um tempo desses primeiros episódios mostrando que ela e Soto tiveram alguma dificuldade em digerir tanta informação de uma vez. É, parece que essa não é mesmo uma série sobre pessoas...
Giselle de Almeida

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