Super 8 (ou revivendo bons tempos da Sessão da tarde)



A expectativa era algo bem próximo de zero. Mas não é que fui ao cinema de coração aberto (isso soou brega, eu sei) e me diverti horrores com Super 8? Não que eu achasse que a experiência seria ruim, mas gosto de me precaver quando um filme superbadalado está para estrear. Sabe como é, minha tendência é criar implicância. Difícil classificar o filme, que não é bem um sci-fi, tem boas pitadas de drama e mistério, mas também não é comédia, embora o humor esteja presente o tempo todo. Acho que aventura seria o mais adequado, como aqueles longas que a geração da década de 80 adorava ver na "Sessão da tarde". A sensação era de estar vendo uma espécie de nova versão de Os goonies, guardadas as devidas proporções. Uma delícia acompanhar aquele bando de moleques enfrentando perigos do jeito que dá, sem saber exatamente onde estão se metendo, e nos fazendo rir à beça.

A história toda se passa em 1979. Joe (Joel Courtney), que ainda se recupera da trágica morte da mãe, ajuda o amigo Charles (Riley Griffiths) a fazer um filme sobre zumbis. No meio das filmagens, o grupo, que conta ainda com Alice (Elle Fanning), Cary (Ryan Lee), Martin (Gabriel Basso) e Preston (Zach Mills), presencia um acidente de trem. A partir daí, coisas estranhas começam a acontecer na cidadezinha onde moram. Prepare-se para alguns (bons) sustos, graças à direção de J.J. Abrams. Além de nos fazer pular da cadeira, ele consegue manter o suspense sobre o que vem causando os tais eventos com planos simples e eficazes. É só lembrar da cena da loja de conveniência, em que até usa o clichê do atendente com walkman, mas nos deixa nervosos com aquela placa do posto que cresce na tela enquanto a gente quer mesmo saber o que está acontecendo por trás dela. 


A coisa vai ficando mais enigmática com o desenrolar da história, embora o desfecho não seja dos mais coerentes nem dos mais empolgantes. Mas o caminho até lá, eu garanto, tem boas surpresas. A começar pelo elenco, cuidadosamente escolhido. Um filme como esses não funcionaria sem crianças tão carismáticas e talentosas. Elle Fanning, tão assustadoramente adulta quanto a irmã mais velha, Dakota, é a mais preparada. Tem uma carreira longa pela frente. Ryan Lee, com o personagem mais engraçado do grupo, se destaca, mas Riley Griffiths, Gabriel Basso e Zach Mills também divertem. Mais do que convincente, Joel Courtney (que tem 15 anos, mas parece ser bem mais novinho) constrói um Joe tímido, doce e encantador. Também promete.

E eu nem disse ainda que é ótimo ver a reverência ao próprio cinema dentro do filme. Muita gente gosta de frisar uma certa homenagem a Spielberg. De fato, existem referências a Contatos imediatos de terceiro grau e ET, só para citar os mais óbvios, mas Super 8 é muito mais do que isso. Quer coisa mais linda que Charles dirigindo o set? Quanto ele teria do próprio J.J.? Fica evidente em todas as sequências de bastidores da produção dos garotos que paixão pela sétima arte é coisa séria, é difícil, é trabalho de equipe. Além disso, se você também morreu de rir vendo Cary morrendo como zumbi, deve ter se divertido ainda mais com a "lembrança" a George Romero, que inaugurou o gênero com A noite dos mortos-vivos (prestem atenção nos créditos finais!). E o que dizer do roteiro à la anos 50, com direito ao envolvimento dos militares nos misteriosos acontecimentos, clássico dos clássicos da ficção científica em tempos de Guerra Fria? Na cena em que a população levanta as mais absurdas teorias conspiratórias é difícil não conter o riso. Não se esqueçam de que o que hoje é cômico já foi levado a sério! 


Mas existe uma outra razão para dizer que o longa não é uma homenagem a Spielberg. Simplesmente porque Abrams não chega nem perto da capacidade dramática que o diretor consegue imprimir em seu trabalho. E, mesmo nos minutos finais da narrativa, quando carrega nas tintas, não alcança um momento grandioso ou apoteótico, só um tanto piegas. Não que falte vontade, pois a matéria-prima está toda lá: a relação complicada entre Joe e seu pai, a perda recente da mãe, a descoberta do primeiro amor, a dificuldade de achar o momento certo de perdoar. Todos os atores correspondem muito bem ao que lhes é proposto, mas o desenvolvimento de todos esses dramas fica sempre aquém do esperado.  Com esse material nas mãos de Spielberg, que consegue ser genial tanto no campo da fantasia quanto no da emoção, eu teria chegado às lágrimas fácil. Nesse último quesito, o pupilo ainda não superou o mestre.
Giselle de Almeida

4 comentários:

Fabiane Bastos disse...

Simplesmente adorei Super 8. É como vc disse as vezes o q importa é a jornada.

Já tá na minha lista de "dvds de natal" hehehe...

Giselle de Almeida disse...

Oi, Lê. Obrigada pela visita e pelo comentário.

Já visitei seu blog e deixei recadinho! Volte sempre.

Abs!

Aaliyahrj disse...

Assisti Super 8 e confesso que fiquei meio decepcionada...
Adorei seu blog e estarei sempre por aqui, pois amo filmes! Ótima semana para você! Bjoks

Giselle de Almeida disse...

Super 8 dividiu opiniões mesmo, Aaliyahrj. Acho que o que pesou foi o nível de expectativa de cada um. O filme tem falhas, mas pra mim foi uma ótima sessão nostalgia. Me diverti muito no cinema!

Obrigada pela visita e pelo comentário. Seja muito bem-vinda!