Festival do Rio 2009: Eu, ela e minha alma


Eu gostava bem mais do outro título em português, Tráfico de almas. O atual não quer dizer nada com com coisa nenhuma. Implicâncias à parte, gostei do filme, que me lembrou bastante Brilho eterno de uma mente sem lembranças e Abre los ojos. Todos falam sobre pessoas insatisfeitas ou desesperadas, que procuram uma solução imediata para seus problemas. E em cada um, sempre tem alguém lucrando em cima disso, apresentando uma resposta rápida e prática para as questões que mais nos afligem: a felicidade está ao alcance do cartão de crédito. Não que a nossa sociedade esteja distante disso, só não é tão escancarado. E aí é que está a graça de um roteiro como o de Eu, ela e minha alma.

No papel de si mesmo, Paul Giamatti está prestes a encenar a peça Tio Vânia, mas anda inquieto com a construção do personagem. Sua angústia é tamanha, que ele aceita a proposta de seu agente para procurar os serviços de uma empresa que armazena almas. Funciona assim: o sujeito vai lá, extrai sua alma, deixa a coitada guardadinha e fica mais aliviado, já que passa a não sentir mais nada. Simples, não? A situação fica ainda mais bizarra ao descobrirmos que, além de desalmado, você pode também alugar almas de outras pessoas. Fica tudo armazenado num catálogo e você pode escolher: ator americano, compositor brasileiro, poeta russo... Pra piorar, uma máfia russa comanda o mercado negro, fazendo o comércio ilegal de almas.

Muita viagem? É. Mas se a gente parar pra pensar, a metáfora é perfeita. A cada dia procuramos um método diferente de alienação, de distanciamento do sofrimento, e isso pode significar tanto mergulhar em uma vida virtual ou se afundar em drogas. Tudo é válido para aplacar a angústia. Se fosse possível extrair a alma, aquilo que nos atormenta, por que não fazê-lo? Alguém estaria disposto a vender, e alguém disposto a comprar. O filme de Sophie Barthes opta pela ironia pra falar de tudo isso, ainda que de uma maneira um tanto tímida. Poderia ser mais sarcástico, poderia usar mais do humor, ainda mais com um ator como Giamatti em cena. Mas o roteiro não deixa de ser provocante.
Giselle de Almeida

Um comentário:

Fabiane Bastos disse...

Hã!
Colocando na lista de "ver quando nãi tiver com preguiça de entender coisas dificeis!"

Sabe essa visita ao seu blog está sendo bastante produtiva para minha lista de filmes à assistir...