Festival do Rio 2009: Abraços partidos

Quem lê a sinopse de Abraços partidos pensa logo num dramalhão. Sente só: cineasta que perdeu a visão e a mulher de sua vida num acidente há 14 anos abandona a carreira, adota um pseudônimo e passa a trabalhar como roteirista. Quando é questionado sobre seu passado, ele revira seu baú de memórias. Mas não precisa ir ao cinema de má vontade. O filme é mais que isso.

Não dá pra negar, é uma trama pesada, com personagens intensos, tem histórias de traição, de abandono, de vingança, enfim, todos os elementos de um (bom) drama. Mas sabe qual é um dos maiores trunfos do filme de Pedro Almodóvar? O bom-humor. Uma frase engraçadinha aqui, uma caracterização tosca ali, são a pitada de leveza necessária para trazer um pouco de equilíbrio para o filme.

Claro que nem tudo são flores: o roteiro é um tanto capenga em determinadas partes, algumas falas soam clichês como uma novela do Manoel Carlos. Às vezes a trama perde um pouco o rumo, focando em algo que deveria servir apenas de pano de fundo, como o filme dentro do filme, que é onde os protagonistas se conhecem e se apaixonam.

Mas a gente até deixa passar, diante de um elenco que é magnífico diante da tela. Lluís Homar, na pele do atormentado Mateo Blanco/Harry Caine, faz a gente sofrer com ele diante de uma paixão impossível e da perda das coisas mais importantes de sua vida. A Lena de Penélope Cruz é a prova de que a atriz fica tão mais à vontade fazendo filmes em espanhol... Mostrando que não é musa do diretor à toa, ela seduz a plateia também, e acabamos torcendo por ela. Os veteranos Blanca Portillo e José Luiz Gómez aproveitam cada cena, por menor que seja, para arrasar. Com um bom elenco nas mãos, Almodóvar faz milagres.