Oscar 2015: Boyhood

Indicações: filme, diretor, atriz coadjuvante (Patricia Arquette), ator coadjuvante (Ethan Hawke), roteiro original e edição


Não entendo quando alguém (a minoria, felizmente) diz que Boyhood não é nada demais ou não tem história. Talvez o filme mais sensível da temporada, o longa de Richard Linklater merecia um pouco mais de consideração por parte do público. Não só pela originalidade do projeto como por sua execução impecável. 

Em primeiro lugar, não, a proposta de se filmar os mesmos atores ao longo de 12 anos não pode ser desvinculada do resultado final. Isso faz parte da concepção da obra e acrescenta significado: ou você não acha que as transformações físicas e emocionais do elenco não acrescentaram nada às suas performances? Seus questionamentos e vivências e mudanças de opinião não trouxeram camadas extras aos personagens? Sim, trouxeram. E rodar por três meses seria uma escolha muito mais prática do que por mais de uma década, com todos os percalços e imprevistos que um período tão longo implica - se não fizesse diferença, estejam certos de que seria a decisão mais sábia.

Mas se esse aspecto é o que logo chama atenção ao se falar do filme, o conteúdo é outra agradável surpresa. A proposta de Boyhood é acompanhar o crescimento de Mason (Ellar Coltrane) desde a infância até o início da fase adulta, tarefa tão simples na aparência quanto difícil na essência. Todos os questionamentos vividos pelo rapaz são capazes de provocar imediata identificação, por mais diferente que seja a experiência de cada espectador. 

A relação de implicância com a irmã, Samantha (Lorelei Linklater), de amor com a mãe (Patricia Arquette), de distanciamento e fascínio com o pai (Ethan Hawke), e de aceitação com o padrasto,  que vão se modificando com o tempo. A necessidade da independência. Os questionamentos sobre o futuro. Os ressentimentos. Os relacionamentos amorosos. A escolha do próprio caminho. A consciência do amadurecimento.

Cada tema que vai surgindo na tela segue um ritmo fluido e, à medida que vamos enxergando na tela a mudança das feições de cada um dos atores, somos capazes de reconhecer também as transformações pelas quais passamos ao longo da vida. Uma sequência que se destaca é a da personagem de Arquette ao se dar conta da mudança do filho para a faculdade: naquele momento irreversível, ela passa sua vida inteira em revista e se emociona ao perceber a dura passagem do tempo. 

A performance da atriz durante todo o longa, aliás, é memorável. Subestimada no cinema, ela encara com coragem um papel difícil: a mulher doce e dependente, que faz algumas escolhas erradas na tentativa de acertar. Sua jornada mostra diferentes fases, todas defendidas com sinceridade, coisa bonita de se ver. Ethan Hawke, parceiro de Linklater na trilogia Antes do Amanhecer, tem menos tempo de tela, mas não desperdiça nenhum segundo: com seu carisma, ele transforma o pai ausente num dos personagens mais adoráveis do filme. Ellar Coltrane e Lorelei Linklater, por sua vez, demonstram uma segurança pouco comum para atores tão jovens. E fica óbvia a participação do diretor nesse processo, porque é preciso sensibilidade para perceber o potencial de momentos tão singelos numa história tão comum, no bom sentido. Sorte nossa que isso não faltou em Boyhood.


Oscar 2015: Birdman

Indicações: filme, diretor, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton), atriz coadjuvante (Emma Stone), roteiro original, fotografia, edição de som e mixagem de som


Arrisco a dizer que todo ano o Oscar deveria ter o seu Birdman. Aliás, todo ano o cinema deveria ter o seu Birdman. É daqueles filmes que dividem opiniões - os que apreciam a ousadia e os que torcem o nariz para a proposta diferente. É daqueles filmes que provocam - na forma pouco usual, no conteúdo metalinguístico e crítico até o talo. É daqueles filmes que têm o que dizer mas, ao mesmo tempo, não se levam muito a sério. É daqueles filmes sobre o qual vamos falar sobre um bom tempo, enquanto outras dezenas (talvez até premiadas) cairão no esquecimento e na irrelevância. Pelo menos é o que eu espero.

Já na primeira cena, o longa de Alejandro González Iñárritu flerta com o surrealismo, ao mostrar o protagonista flutuando (de cueca, vejam bem) dentro de seu camarim. O estranhamento segue durante toda a projeção, enquanto nos perguntamos seriamente se Riggan (Michael Keaton) ouve vozes ou é mesmo capaz de conversar com Birdman, seu personagem mais famoso nos cinema (e seu alter ego nas horas vagas). 

Único papel de sucesso na carreira de um ator em decadência, o super-herói não surge impunemente na história neste momento em que as bilheterias dos Estados Unidos (e do resto do mundo, por que não?) só tem olhos para franquias adaptadas dos quadrinhos. A graça só aumenta por trazer Keaton no papel: intérprete do Homem-Morcego nos Batman de Tim Burton, ele não tem exatamente vários sucessos em sua carreira recentemente.

A busca pelo sucesso fácil, programa certo na agenda de produtores gananciosos e artistas preguiçosos, parece tão patética quanto o desespero do protagonista, que luta para montar um espetáculo e conseguir algum respeito dos críticos. Não que os críticos do filme sejam pessoas que mereçam qualquer credibilidade: são pessoas frustradas, impiedosas e arrogantes, você sabe. Todo o esforço de Riggan, no entanto, parece ser recompensado quando ele encontra Mike (Edward Norton), um ator motivado e talentoso de verdade. Mas eis que as palmas da platéia encontram outro dono e tudo vai por água abaixo, de novo. 

Acompanhar as idas e vindas emocionais e intelectuais dos personagens é um desafio, e a câmera sempre em movimento e a edição fluida do filme, quase um enorme plano sequência, nos dão a eterna sensação de percorrermos um enorme labirinto. A sensação de um tempo bem próximo do real aumenta a noção de urgência que permeia todo o filme: a peça vai estrear, o ator não vai aparecer, Riggan vai perder a sanidade, vai cometer um ato impensável. Iñárritu comanda com maestria o espectador por esses túneis que conectam ficção e realidade, vida íntima e vida pública, arte e show business.

O longa nos brinda com sequências hilárias como a que o protagonista percorre a Broadway de cueca e a briga entre Mike e Riggan; emocionantes como as francas conversas com a filha e a ex sobre o que a vida poderia ter sido e não foi; intrigantes como os confrontos entre Birdman e seu intérprete. Keaton está seguro em cena e entrega uma atuação sincera em todas as nuances do personagem, que entra em depressão com a mesma velocidade em que embarca numa egotrip. 

Norton está divertidíssimo como o artista meio sem noção meio sem escrúpulos, que não se importa em roubar a cena para garantir seu lugar ao sol. Os dois se destacam, mas Zach Galifianakis, Emma Stone e Naomi Watts seguram bem as pontas nos papéis secundários, dando consistência ao filme. O filme de Iñárritu talvez seja um sinal de que os astros de Hollywood precisem dar mais ouvidos para seus Birdmen interiores.

No próximo post: Boyhood

Oscar 2015: Whiplash

Indicações: filme, ator coadjuvante (JK Simons), roteiro adaptado, edição e mixagem de som


Desde sua primeira cena, Whiplash deixa clara sua proposta: construir um duelo direto entre um jovem aspirante a músico e um exigente professor. No entanto, à medida que o filme avança, a dinâmica entre eles se distancia cada vez mais da relação pupilo-mestre que se costuma ver em longas do gênero. Em vez de simplesmente inspirar, Terrence Fletcher (JK Simons) provoca o jovem Andrew (Miles Teller) até o limite, numa relação que mais lembra um treinamento militar que um aprendizado artístico. E é na alternância entre essas duas forças, apoiadas por duas grandes interpretações, que está o grande trunfo da produção.

Talvez a principal característica que salva o filme de cair no lugar comum seja a ambição de Andrew. Se fosse apenas um gênio incompreendido em busca da grande oportunidade, a história perderia muito em relevância. O rapaz tem talento, assim como muitos de seus colegas, mas se distingue não só pela determinação: ele não quer ser apenas bom, quer ser o melhor. Diz isso com todas as letras, busca isso todos os dias, para se tornar alguém memorável e nunca mais ser deixado de lado nos jantares da família. 

Em busca do sucesso, resolve abrir mão até do recente e promissor namoro com Nicole (Melissa Benoist) para se dedicar 100% ao jazz. A cena do término, aliás, merece destaque pela franqueza e até frieza do protagonista: ele está disposto a tudo para se destacar na carreira, doa a quem doer.

E por falar em dor, o baterista conhece bem o assunto. Além de dar o sangue, literalmente, em exaustivos ensaios, Andrew enfrenta situações bem mais difíceis no âmbito psicológico. Humilhação pública, tortura psicológica e até violência física são os recursos empregados por Fletcher, professor talentosíssimo e muito conceituado que, após alguma resistência, aceita o jovem em sua banda. 

O diretor e roteirista Damien Chazelle diz que se baseou numa experiência própria, que vivenciou enquanto estudava jazz numa renomeada escola americana. Segundo o cineasta, seu objetivo era discutir até que ponto uma atitude tão, digamos, enérgica, poderia ser produtiva ou prejudicial. 

Embora tente equilibrar os dois pontos de vista e até flerte com uma crítica ao método pouco ortodoxo do mestre, ao apresentar as dramáticas consequências na vida de um ex-aluno, o filme tem, afinal, um vencedor. A teoria de Fletcher, de que vale tudo no combate à mediocridade, parece prevalecer no fim, reforçando a ideia de que só é possível alcançar a perfeição na base do bullying. E está aí a sequência final para corroborar essa ideia. Ressalvas à parte, não se pode negar que os embates entre professor e aluno são o ponto alto do filme. 

Ponto para a firme direção de Chazelle (também diretor de fotografia e responsável pelo estilo visual apurado do longa, com seus closes precisos e movimentos de câmera significativos) e para os atores. Teller, ainda um ator desconhecido do grande público, tem aqui chance de brilhar antes de se lançar em obras mais populares como o novo Quarteto Fantástico, que pode deslanchar sua carreira. Já Simons, um ator quase sempre relegado a papéis menores, ganha um personagem a sua altura e domina a cena toda vez que aparece. Neste duelo, só há vencedores.

No próximo post: Birdman

Bolão do Oscar 2015



É chegada a hora de um dos momentos mais divertidos do ano, o bolão do DVD, Sofá e Pipoca, aquele evento anual em que o Comentar é Preciso chega aos 45 do segundo tempo e chuta todas para bem longe da área. Mas aqui vale a máxima do "importante é competir", ou melhor, bom mesmo é dividir os pitacos e imoressões do ano com os amigos blogueiros cinéfilos. Esse ano a maratona foi devagar quase parando (shame on me), mas amanhã ainda deve rolar um retardatário por aqui (impedível hehe).

Indo ao que interessa, nossos preferidos e nossos palpites do ano. Rufem os tambores!

Melhor filme

Indicados: "Sniper americano", "Birdman", "Boyhood: Da infância à juventude", "O grande hotel Budapeste", "O jogo da imitação", "Selma", "A teoria de tudo", "Whiplash"

Quem eu acho que vai ganhar: Birdman. Pela ousadia narrativa, pela temática crítica, pelo jeitão debochado. Mas acho que "Boyhood" ou "Sniper americano" têm suas chances

Por quem eu vou torcer: "Birdman" e "Boyhood". "O Grande hotel Budapeste" é lindo, mas os dois, cada um a seu estilo, são os mais marcantes de um ano fraco. Um é frenético, o outro é plácido. Um é surrealista, o outro, naturalista. Um tem mais comédia, o outro tem mais drama. Mas os dois têm a coragem de sair do lugar comum, que afunda cada vez mais o cinema americano (e mundial)


Melhor diretor

Indicados: Alejandro Gonzáles Iñárritu ("Birdman"), Richard Linklater ("Boyhood"), Bennett Miller ("Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo"), Wes Anderson ("O grande hotel Budapeste"),
Morten Tyldum ("O jogo da imitação")

Quem eu acho que vai ganhar: Tô na dúvida, mas vou de Linklater. Anderson e Iñárritu também estão no páreo, merecidamente

Por quem eu vou torcer: acho que a sensibilidade do Linklater precisa ser reconhecida, mas confesso que gostaria muito de ver Iñárritu no palco. Qualquer preferência por latinidade aqui não é mera coincidência


Melhor ator

Indicados: Steve Carell (Foxcatcher), Bradley Cooper (Sniper americano), Benedict Cumberbatch (O jogo da imitação), Michael Keaton (Birdman), Eddie Redmayne (A teoria de tudo)

Quem eu acho que vai ganhar: Eddie Redmayne, porque o papel é sob medida pro Oscar e blábláblá

Por quem eu vou torcer: o Batman, claro. Amo Benedict de todo meu coração e sou fã do Steve Carell (embora eu não tenha visto Foxcatcher ainda), mas Michael Keaton está incrível num papel incrível. Bradley Cooper está bem sim, obrigada, mas não sou grande fã do filme (explico mais aqui)


Melhor ator coadjuvante

Indicados: Robert Duvall ("O juiz"), Ethan Hawke ("Boyhood"), Edward Norton ("Birdman"), Mark Ruffalo ("Foxcatcher"), JK Simons ("Whiplash")

Quem eu acho que vai ganhar: JK Simons, e vai ser lindo. Um grande papel para um grande ator que não deveria fazer só coadjuvantes. Nem acho que ele seja nesse filme, mas isso é tema para outro post

Por quem eu vou torcer: Simons, pelos motivos acima. Embora o filme tenha seus problemas, sua performance é irretocável. Mas Ethan Hawke e Edward Norton também estava inspirados


Melhor atriz

Indicados: Marion Cotillard ("Dois dias, uma noite"), Felicity Jones ("A teoria de tudo"), Julianne Moore ("Para sempre Alice"), Rosamund Pike ("Garota exemplar"), Reese Whiterspoon ("Livre")

Quem eu acho que vai ganhar: Julianne Moore, e esse é meu único ponto certo nesse bolão. Só dá ela há meses nas listas de apostas dos críticos, então... Ansiosíssima para ver o filme
Por quem eu vou torcer: que triste essa lista, vi quase nada. Das que assisti, Felicity e Rosamund não merecem. Então fico com Julianne e Marion, que são incríveis 99% das vezes


Melhor atriz coadjuvante

Indicados: Patricia Arquette ("Boyhood"), Laura Dern ("Livre"), Keira Knightley ("O jogo da imitação"), Emma Stone ("Birdman"), Meryl Streep ("Caminhos da floresta")

Quem eu acho que vai ganhar: Patricia Arquette, e vou dar pulos de alegria se isso acontecer. Uma atriz incrível e tão subestimada, tomara que esse filme (e esse Oscar) dêem um upgrade na carreira dela. Merece só pela cena em que desabafa com o filho e me fez chorar (mentira, merece pelo filme inteiro)

Por quem eu vou torcer: preciso dizer? Arquette, né? E não sei nem o que Keira Knightley tá fazendo nessa lista, ela não pode estar na mesma frase que a Meryl Streep, que heresia

Melhor filme em língua estrangeira

Indicados: "Ida" (Polônia), "Leviatã" (Rússia), "Tangerines" (Estônia), "Timbuktu" (Mauritânia), "Relatos selvagens" (Argentina)

Quem eu acho que vai ganhar: Leviatã (chutômetro mode on)

Por quem eu vou torcer: Relatos Selvagens, que, além de ser o único da lista que consegui ver, é argentino e bom demais!


Melhor documentário

Indicados: O Sal da Terra, "CitizenFour, "Finding Vivian Maier", "Last days", "Virunga"

Quem eu acho que vai ganhar: uni-duni.... O Sal da Terra


Melhor documentário em curta-metragem 

Indicados: "Crisis Hotline: Veterans Press 1", "Joanna", "Our curse, “The reaper (La Parka), White Earth

Quem eu acho que vai ganhar: The Reaper


Melhor animação

Indicados: "Operação Big Hero", "Como treinar o seu dragão 2", "Os Boxtrolls", "Song of the sea", "The Tale of the Princess Kaguya

Quem eu acho que vai ganhar: Como treinar o seu dragão 2

Por quem eu vou torcer: Banguela!


Melhor animação em curta-metragem

Indicados: The bigger picture, The dam keeper, "Feast, "Me and my moulton, "A single life

Quem eu acho que vai ganhar: Feast


Melhor curta-metragem em 'live-action'

Indicados: "Aya", "Boogaloo and Graham", "Butter lamp (La lampe au beurre de Yak)", "Parvaneh", "The phone call"

Quem eu acho que vai ganhar: The phone call


Melhor roteiro original

Indicados: Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo ("Birdman"), Richard Linklater ("Boyhood"), E. Max Frye e Dan Futterman ("Foxcatcher"), Wes Anderson e Hugo Guinness ("O grande hotel Budapeste"), Dan Gilroy ("O abutre") - 17/02

Quem eu acho que vai ganhar: Boyhood

Por quem eu vou torcer: Birdman ou Boyhood, fico feliz com os dois


Melhor roteiro adaptado

Indicados: Jason Hall ("Sniper americano"), Graham Moore ("O jogo da imitação"), Paul Thomas Anderson ("Vício inerente"), Anthony McCarten ("A teoria de tudo"), Damien Chazelle ("Whiplash")

Quem eu acho que vai ganhar: O jogo da imitação

Por quem eu vou torcer: O jogo da imitação, que não é brilhante, mas bem elaborado. Da lista, só não vi Vício inerente, e os outros não deveriam levar...


Melhor fotografia

Indicados: Emmanuel Lubezki ("Birdman"), Robert Yeoman ("O grande hotel Budapeste"), Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski ("Ida"), Dick Pope ("Sr. Turner"), Roger Deakins ("Invencível")

Quem eu acho que vai ganhar: Ida


Melhor edição

Indicados: Joel Cox e Gary D. Roach (Sniper americano), Sandra Adair (Boyhood), Barney Pilling (O grande hotel Budapeste), William Goldenberg (O jogo da imitação), Tom Cross (Whiplash)

Quem eu acho que vai ganhar: O jogo da imitação


Melhor design de produção

Indicados: "O grande hotel Budapeste, "O jogo da imitação", "Interestelar", "Caminhos da floresta, "Sr. Turner"

Quem eu acho que vai ganhar: Interestelar


Melhores efeitos visuais

Indicados: Dan DeLeeuw, Russell Earl, Bryan Grill e Dan Sudick ("Capitão América 2: O soldado invernal"), Joe Letteri, Dan Lemmon, Daniel Barrett e Erik Winquist ("Planeta dos macacos: O confronto"), Stephane Ceretti, Nicolas Aithadi, Jonathan Fawkner e Paul Corbould ("Guardiões da Galáxia"), Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher ("Interestelar"), Richard Stammers, Lou Pecora, Tim Crosbie e Cameron Waldbauer ("X-Men: Dias de um futuro esquecido")

Quem eu acho que vai ganhar: Interestelar


Melhor figurino

Indicados: Milena Canonero ("O grande hotel Budapeste"), Mark Bridges ("Vício inerente"), Colleen Atwood ("Caminhos da floresta"), Anna B. Sheppard e Jane Clive ("Malévola"), Jacqueline Durran ("Sr. Turner")

Quem eu acho que vai ganhar: O grande hotel Budapeste


Melhor maquiagem e cabelo

Indicados: Bill Corso e Dennis Liddiard ("Foxcatcher"), Frances Hannon e Mark Coulier ("O grande hotel Budapeste"), Elizabeth Yianni-Georgiou e David White ("Guardiões da Galáxia")

Quem eu acho que vai ganhar: Guardiões da galáxia


Melhor trilha sonora

Indicados: Alexandre Desplat ("O grande hotel Budapeste"), Alexandre Desplat ("O jogo da imitação"), Hans Zimmer ("Interestelar"), Gary Yershon ("Sr. Turner"), Johann Jóhannsson ("A teoria de tudo")

Quem eu acho que vai ganhar: O grande hotel Budapeste


Melhor canção

Indicados: "Everything is awesome", de Shawn Patterson ("Uma aventura Lego"), "Glory", de John Stephens e Lonnie Lynn ("Selma"), "Grateful", de Diane Warren ("Além das luzes"), "I'm not gonna miss you", de Glen Campbell e Julian Raymond ("Glen Campbell…I'll be me"), "Lost Stars", de Gregg Alexander e Danielle Brisebois ("Mesmo se nada der certo")

Quem eu acho que vai ganhar: Selma


Melhor edição de som

Indicados: Alan Robert Murray e Bub Asman ("Sniper americano"), Martín Hernández e Aaron Glascock ("Birdman"), Brent Burge e Jason Canovas ("O hobbit: A batalha dos cinco exércitos"), Richard King ("Interestelar"), Becky Sullivan e Andrew DeCristofaro ("Invencível")

Quem eu acho que vai ganhar: Interestelar


Melhor mixagem de som

Indicados: John Reitz, Gregg Rudloff e Walt Martin ("Sniper americano"), Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga ("Birdman"), Gary A. Rizzo, Gregg Landaker e Mark Weingarten ("Interestelar"), Jon Taylor, Frank A. Montaño e David Lee ("Invencível"), Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley ("Whiplash")

Quem eu acho que vai ganhar: Whiplash

Oscar 2015: Sniper Americano

Indicações: filme, ator (Bradley Cooper), roteiro adaptado, montagem, edição de som e mixagem de som


Filmes de guerra precisam de uma boa razão para serem feitos ou viram puro panfleto ideológico. Mostrar o horror dos conflitos e os efeitos psicológicos de uma experiência traumática são bons exemplos, e Sniper Americano atira (com o perdão do trocadilho) em ambos. Mas não acerta nenhum. A história de Chris Kyle, considerado o atirador mais letal da história da marinha americana, sofre com essa falta de definição e não consegue formar um retrato mais contundente do personagem. A crítica velada ao patriotismo cego acaba anulada pelos elementos que exaltam o herói. Neutralidade intencional? Talvez, mas uma pergunta não me sai da cabeça: o que faz de Kyle um herói maior que seus companheiros?

Uma cena rápida do filme talvez contenha a "resposta": ao cruzar com o irmão, recém-convocado para a guerra, antes de voltar para uma de suas missões, o protagonista se mostra surpreso e até chocado ao ver que o caçula não queria ir. Pelo contrário, estava com medo, com raiva. O sniper não tinha dúvidas de seu propósito. O roteiro, aliás, deixa de lado a sutileza e afirma que seu comportamento é fortemente influenciado pela visão do pai, que ensina aos filhos que as pessoas se dividem entre indefesas ovelhas, lobos malvados e cães pastores, cuja função é proteger.

Sem direito a escolha, Kyle fica com a última opção - embora, curiosamente, tenha tentado a vida como caubói para conquistar mulheres num primeiro momento. Motivado por um ataque à embaixada americana e com a vida meio à deriva, decide se juntar às forças armadas. Em pouco tempo, ainda em sua primeira missão no Iraque, torna-se O Mito, pela exímia pontaria e pelo número de vítimas. Ganha o respeito e a admiração dos colegas, mas se transforma também em um estranho em casa. 

Seu lugar de conforto é na batalha, onde, tal qual um robô, repete infinitamente que deseja salvar a vida dos companheiros. Enquanto não está lá, não consegue se dedicar à mulher, Taya (Siena Miller), e aos filhos. E é aí que ele se diferencia de tantos veteranos com estresse pós-traumático já retratados no cinema. Enquanto, normalmente, ex-combatentes precisam se livrar dos fantasmas para retomar a rotina, ele não quer nada disso. Somente sente ansiedade e impotência por não poder se juntar a seu pelotão.

O sofrimento da família é o único contraponto que sugere algum tipo de egoísmo do protagonista. Mas é possível que os americanos mais patrióticos possam enxergar justamente o contrário e culpar Taya por reclamar tanto da ausência do marido. No entanto, o discurso do atirador apenas repete a lógica (?) da guerra: salvar, eliminar o inimigo, proteger o "melhor país do mundo", como ele afirma a certa altura. 

Já os iraquianos são homens quase sem história, sem nome, sem família, são ameaçadores, perigosos, impiedosos. São os outros. Então a decisão de matar só é difícil quando se trata de uma mulher ou uma criança? O filme cai nessas armadilhas, que são um desserviço para uma cultura extremamente bélica como a americana e que se estende por outros países também.

Fora isso, no que se refere à construção da narrativa, o longa consegue construir bons momentos de tensão e fortes sequências dramáticas, com Siena Miller e Bradley Cooper bastante inspirados. E aqui cabe um comentário sobre terceira indicação seguida do ator, não muito respeitado pelos críticos e mais identificado com as comédias e produções românticas. Cooper é um ator mediano, que definitivamente não merecia ser indicado pelo pretensioso Trapaça ou pelo irregular O Lado Bom da Vida. Mas aqui, sob a batuta de Clint Eastwood, se sai muito bem, sem apelar para exageros, e contrói um Chris Kyle contraditório e crível.

O fato de Eastwood ter assumido a direção após a saída de Steven Spielberg do projeto, por conta do modesto orçamento da produção, me deixa com a impressão de que o longa ganhou mais força no lado humano da história, embora as sequências de ação sejam conduzidas com competência. Ainda assim, Sniper Americano fica devendo uma resposta para a pergunta feita no primeiro parágrafo. Porque ser uma máquina mortífera (eficaz, focado e sem medo) não é suficiente para alçar alguém a um posto especial em uma situação como a guerra, onde só existem perdedores.

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