'Tropa de elite 2': missão dada, missão cumprida



Tropa de elite 2 poderia ser só um caça-níquel. Faturaria aos tubos se tivesse apenas uma história rasa, arrastaria milhões aos cinemas se repetisse a temática do primeiro filme, atiçaria a ganância dos piratas mesmo se fosse restrito ao universo da violência nos morros cariocas, cairia no gosto popular com mais uma meia dúzia de frases de efeito. Mas o longa de José Padilha veio na hora certa, sem afobação, mantendo a pegada forte do original, mas elevando o nível da discussão para esferas superiores. E é uma porrada. Não sei você, mas eu saí do cinema discordando do letreiro inicial do filme: apesar das semelhanças com a realidade, é tudo ficção. Quem dera.

Achei inteligente tirar a ação da favela, que é o lado mais vulnerável e mais visível da história, e levar a trama para os bastidores políticos. O primeiro filme tornou-se um fenômeno pop, seria  fácil continuar na mesma fórmula, mas também óbvio demais. Mais do que uma continuação, Tropa 2 é uma evolução sobre o tema segurança pública, do qual Padilha gosta tanto. E as diversas citações que ele faz a pessoas, lugares e casos da vida real só torna o filme mais rico. E a situação mais assustadora.

Claro que as referências ali estão misturadas, basta um olhar atento para pescá-las e perceber que o personagem do excelente André Mattos é, ao mesmo tempo, o midiático e impagável Wagner Montes e Jerominho, conhecidíssimo na Zona Oeste e preso por envolvimento com milícias. Já tem gente reclamando que isso pode confundir as pessoas, mas o filme não foi feito para ser didático. E nem sei se as pessoas estão muito interessadas nisso, vide vários políticos corruptos reeleitos nas últimas eleições. É um ciclo que não se fecha nunca.

Talvez alguns sintam falta do capitão Nascimento sanguinário, uma espécie de Jack Bauer brasileiro, encarnado com perfeição por Wagner Moura há três anos. E ele cabia perfeitamente num filme de ação (muito bem feito, por sinal), como foi o primeiro, mas não caberia em Tropa 2. A solução foi amadurecer o personagem - o que soa um tanto forçado em alguns momentos, como a relação com a ex-mulher e o filho -, e colocá-lo em um cargo estratégico (leia-se burocrático) na Secretaria de Segurança. De mãos atadas, lidando com políticos corruptos e decisões condenáveis o tempo todo, ele já não é o "herói" que resolve tudo com violência, é só mais uma peça no sistema, que escolheu o lado mais fraco: o lado honesto.  


Aí o grande destaque vai mesmo para o vilão, o miliciano major Rocha (o irrepreensível Sandro Rocha). Ao fazer alianças com bandidos e políticos (qual é a diferença mesmo?), ele vai construindo seu próprio império, arrancando dinheiro e amedrontando gente humilde e eliminando quem se mete no seu caminho. Enquanto isso, Fraga (Irandhir Santos, na medida), o deputado honesto que luta para pôr fim às milícias, é um idealista, um cavaleiro solitário, chamado de babaca para baixo. No fim das contas, é mais ou menos por aí.

Padilha, mais uma vez, traz uma discussão interessante à tona, mas o filme não deixa de ser bom entretenimento. Seu elenco é impecável, os conflitos dos personagens são verossímeis, as histórias são bem amarradas, o roteiro traz umas pitadas de humor necessárias para aliviar a tensão. Mas o desfecho é um tanto decepcionante, eu diria. Um final aberto seria mais interessante. Vai ver é essa nossa mania de sempre querer um happy end. Mesmo quando a gente sabe que na vida real isso está longe à beça.
Giselle de Almeida

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